Esta foi uma semana miserável para o futebol português.
De repente, vemos duas figuras (Catão & Boaventura), sem nenhuma relevância para o que importa construir em nome de um futebol melhor, ocupar o espaço mediático de uma forma brutal.
Pela primeira vez tivemos em directo duas figuras que emergem daquilo que muitas vezes se observa e comenta como sendo o futebol-fora-das-quatro-linhas. O futebol do ‘bas-fond’, o futebol marginal, o futebol que é alimentado debaixo dos relvados, à sorrelfa, com uma linguagem e procedimentos muito (pouco) próprios.
Vimos um ‘empresário de jogadores’ a chegar num carro de luxo às instalações de um clube de futebol (São Pedro da Cova), da AF Porto, e o seu director desportivo, ex-director do Canelas a entrar nessa viatura e a gravar um vídeo… que fica para a história. A partir desse vídeo, as duas figuras são elevadas à condição de protagonistas do desporto-rei, porque se percebe que, no diálogo entre elas, são envolvidos dois grandes clubes do futebol nacional (Benfica e FC Porto) e os presidentes desses clubes (Luís Filipe Vieira e Jorge Pinto da Costa).
Fica claro que aquelas duas figuras já tinham pontos de contacto e percebe-se, por aquilo que foi sendo dito, não obstante a agressão e as tensões protagonizadas naquele momento, um ao ataque e outro na defensiva, uma certa afinidade — na hostilidade — entre ambos. Interessante.
E não deixam de ser surpreendentes os sinais de proximidade que ambos denunciam ou insinuam e dizem ter com os presidentes do Benfica e FC Porto. E este é um ponto essencial: o que determina indivíduos deste perfil conseguirem movimentar-se junto de figuras proeminentes do futebol português, como é o caso (confirmado recentemente por Paulo Futre) de César Boaventura em relação a Luís Filipe Vieira? O que determina que, através de Boaventura, Vítor Catão seja convidado a entrar nestes corredores do poder? O que determina que presidentes de grandes clubes, em vez de se colocaram numa posição de dignificação do futebol, escolhendo selectivamente os seus parceiros de convivência institucional, se sintam confortáveis em ‘baixar o nível’, colocando-se ao lado deste tipo de indivíduos, aparentemente com oferta de bilhetes e outras mordomias? Que importância tem esta ‘sociedade Catão & Boaventura’ para merecerem atenções presidenciais?
Tivemos um director desportivo de um clube da AF Porto a dizer, em directo, que Luís Filipe Vieira lhe deu 200 000€ para colocar um dispositivo de GPS no carro de Pinto da Costa, pôr Francisco J. Marques em coma e pagar a árbitros e jogadores para o Benfica ganhar. É claro que estas gravíssimas afirmações têm de ser provadas, mas não é menos grave a confissão em directo de que o dinheiro foi recebido para perpetrar todos aqueles crimes. Não é isto relevante?
Por muitas mentiras que estejam a ser jogadas, como uma bola de ténis, para o campo dos inimigos-amigos, em serviços alternados, o que se passou esta semana teria sido suficiente para o secretário de Estado do Desporto (existe?!), perante os sinais gravosos e inaceitáveis de poder estar em curso uma gigantesca campanha para se ganhar o campeonato ‘de qualquer maneira’, vir a terreiro fazer uma declaração sobre os perigos que se abatem sobre o futebol português. É bom não esquecer que houve fugas sobre a nomeação do árbitro Capela (a informação foi parar a Boaventura), o que pode significar haver interesse, de fora para dentro do sector da arbitragem, da partilha dessa nomeação. Com que objectivos?
Estes assuntos não podem ser tratados como brincadeiras de rapazolas, nem como folclore, nem como meras leviandades. Têm se ser tratados como assuntos sérios.
A tendência — para não se fazer nada — é dizer-se que a Liga não tem nada a ver com este tipo de protagonistas e a FPF também não. Errado. Este assunto tem a ver com o futebol português. Com a integridade e a dignidade das competições. E quem tem de estar na frente deste combate pela dignificação do futebol e das suas provas é a FPF e a Liga. Juntas e solidariamente. E se, por estranho conforto, não se mexerem, é nestas situações-limite que o Estado deve intervir.
Hoje, sobre o futebol português, já deveria estar implícito que o campeonato pode ser suspenso. Isto atingiu todos os limites. Fingir que não se passa nada e que estas manifestações do triunfo do futebol marginal sobre a dignidade do futebol não passam de brincadeiras de gente pouco recomendável é pactuar para que se instale o caos e a violência. É inacreditável o sossego que se instala nos gabinetes. E tudo se relaciona com anos e anos de podridão, de deixa andar, da convicção de que nada acontece? O futebol português é, de facto, um caso de polícia.
JARDIM DAS ESTRELAS (*1 estrela)
Golpismo, não!O Gil Vicente ganhou o direito de regressar à I Liga. Ponto. Esse direito tem de se materializar na próxima época. A FPF fez muito bem em se mostrar firme e inflexível em relação a esta matéria. Ponto. O resto é conversa. A tentativa golpista de se criarem factos novos para se consumar um novo alargamento é preciso travar e desmascarar. O alargamento seria uma provocação ao estado de Direito e mais um atropelo aos interesses do futebol português, que precisa de arranjar uma maneira de se tornar mais competitivo. E isso pode passar pelo formato das competições. Menos clubes e mais jogos entre equipas com mais recursos e mais possibilidades competitivas. E a questão da continuidade de Pedro Proença na Liga pouco ou nada tem a ver com o caso do Gil Vicente. Tem outras motivações.
O CACTO
... E a memória?Pinto da Costa veio esta semana relançar o tema-Calabote. Pinto da Costa foi muito importante para a afirmação do FC Porto no futebol português e no espaço internacional, mas não tem um mínimo de condições para falar de arbitragem, de prejuízos e benefícios. Todos sabemos o que foi o Apito Dourado. Todos sabemos que os méritos da gestão desportiva do FC Porto foram alavancados pelo controlo dos principais poderes, incluindo o da arbitragem. Pinto da Costa, nestas alturas, faz-se esquecido. A falta de memória não é, contudo, uma falha no cérebro. É apenas um visitante deste ‘circo’. Para confundir e voltar a baralhar. Estamos no auge de uma luta de poder entre Benfica e FC Porto. E, no plano da tentativa de controlar a arbitragem, deveria haver decoro e vergonha. Ninguém está em condições de se arvorar em dono da moral, e esse é o maior problema - a percepção de que os adeptos papam tudo. Não papam: há muita gente que adorava futebol e deixou de ir aos estádios. Lamentável.
Artigo de opinião de Rui Santos no Jornal Record.Pela primeira vez tivemos em directo duas figuras que emergem daquilo que muitas vezes se observa e comenta como sendo o futebol-fora-das-quatro-linhas. O futebol do ‘bas-fond’, o futebol marginal, o futebol que é alimentado debaixo dos relvados, à sorrelfa, com uma linguagem e procedimentos muito (pouco) próprios.
Vimos um ‘empresário de jogadores’ a chegar num carro de luxo às instalações de um clube de futebol (São Pedro da Cova), da AF Porto, e o seu director desportivo, ex-director do Canelas a entrar nessa viatura e a gravar um vídeo… que fica para a história. A partir desse vídeo, as duas figuras são elevadas à condição de protagonistas do desporto-rei, porque se percebe que, no diálogo entre elas, são envolvidos dois grandes clubes do futebol nacional (Benfica e FC Porto) e os presidentes desses clubes (Luís Filipe Vieira e Jorge Pinto da Costa).
Fica claro que aquelas duas figuras já tinham pontos de contacto e percebe-se, por aquilo que foi sendo dito, não obstante a agressão e as tensões protagonizadas naquele momento, um ao ataque e outro na defensiva, uma certa afinidade — na hostilidade — entre ambos. Interessante.
E não deixam de ser surpreendentes os sinais de proximidade que ambos denunciam ou insinuam e dizem ter com os presidentes do Benfica e FC Porto. E este é um ponto essencial: o que determina indivíduos deste perfil conseguirem movimentar-se junto de figuras proeminentes do futebol português, como é o caso (confirmado recentemente por Paulo Futre) de César Boaventura em relação a Luís Filipe Vieira? O que determina que, através de Boaventura, Vítor Catão seja convidado a entrar nestes corredores do poder? O que determina que presidentes de grandes clubes, em vez de se colocaram numa posição de dignificação do futebol, escolhendo selectivamente os seus parceiros de convivência institucional, se sintam confortáveis em ‘baixar o nível’, colocando-se ao lado deste tipo de indivíduos, aparentemente com oferta de bilhetes e outras mordomias? Que importância tem esta ‘sociedade Catão & Boaventura’ para merecerem atenções presidenciais?
Tivemos um director desportivo de um clube da AF Porto a dizer, em directo, que Luís Filipe Vieira lhe deu 200 000€ para colocar um dispositivo de GPS no carro de Pinto da Costa, pôr Francisco J. Marques em coma e pagar a árbitros e jogadores para o Benfica ganhar. É claro que estas gravíssimas afirmações têm de ser provadas, mas não é menos grave a confissão em directo de que o dinheiro foi recebido para perpetrar todos aqueles crimes. Não é isto relevante?
Por muitas mentiras que estejam a ser jogadas, como uma bola de ténis, para o campo dos inimigos-amigos, em serviços alternados, o que se passou esta semana teria sido suficiente para o secretário de Estado do Desporto (existe?!), perante os sinais gravosos e inaceitáveis de poder estar em curso uma gigantesca campanha para se ganhar o campeonato ‘de qualquer maneira’, vir a terreiro fazer uma declaração sobre os perigos que se abatem sobre o futebol português. É bom não esquecer que houve fugas sobre a nomeação do árbitro Capela (a informação foi parar a Boaventura), o que pode significar haver interesse, de fora para dentro do sector da arbitragem, da partilha dessa nomeação. Com que objectivos?
Estes assuntos não podem ser tratados como brincadeiras de rapazolas, nem como folclore, nem como meras leviandades. Têm se ser tratados como assuntos sérios.
A tendência — para não se fazer nada — é dizer-se que a Liga não tem nada a ver com este tipo de protagonistas e a FPF também não. Errado. Este assunto tem a ver com o futebol português. Com a integridade e a dignidade das competições. E quem tem de estar na frente deste combate pela dignificação do futebol e das suas provas é a FPF e a Liga. Juntas e solidariamente. E se, por estranho conforto, não se mexerem, é nestas situações-limite que o Estado deve intervir.
Hoje, sobre o futebol português, já deveria estar implícito que o campeonato pode ser suspenso. Isto atingiu todos os limites. Fingir que não se passa nada e que estas manifestações do triunfo do futebol marginal sobre a dignidade do futebol não passam de brincadeiras de gente pouco recomendável é pactuar para que se instale o caos e a violência. É inacreditável o sossego que se instala nos gabinetes. E tudo se relaciona com anos e anos de podridão, de deixa andar, da convicção de que nada acontece? O futebol português é, de facto, um caso de polícia.
Os russos estão aí para matar Rui Pinto?!!! Que Rui Pinto sabe muito (e pelos vistos não apenas do futebol em Portugal) parece não existirem dúvidas.
Que Rui Pinto é incómodo também não. Mas se Rui Pinto se serviu da sua ‘expertise’ informática para extorquir ou tentar extorquir alguém isso também não pode ser ignorado. Esse pode ser o seu ponto fraco. É importante, no entanto, que a Ana Gomes — e outras vigilâncias — também andem por aí. Há uma clara protecção ao sistema, um sistema nauseabundo e caduco, controlado pelos grandes escritórios de advogados. E a classe política fecha os olhos, agarrada a esses e outros poderes. Lamentável.
JARDIM DAS ESTRELAS (*1 estrela)
Golpismo, não!O Gil Vicente ganhou o direito de regressar à I Liga. Ponto. Esse direito tem de se materializar na próxima época. A FPF fez muito bem em se mostrar firme e inflexível em relação a esta matéria. Ponto. O resto é conversa. A tentativa golpista de se criarem factos novos para se consumar um novo alargamento é preciso travar e desmascarar. O alargamento seria uma provocação ao estado de Direito e mais um atropelo aos interesses do futebol português, que precisa de arranjar uma maneira de se tornar mais competitivo. E isso pode passar pelo formato das competições. Menos clubes e mais jogos entre equipas com mais recursos e mais possibilidades competitivas. E a questão da continuidade de Pedro Proença na Liga pouco ou nada tem a ver com o caso do Gil Vicente. Tem outras motivações.
O CACTO
... E a memória?Pinto da Costa veio esta semana relançar o tema-Calabote. Pinto da Costa foi muito importante para a afirmação do FC Porto no futebol português e no espaço internacional, mas não tem um mínimo de condições para falar de arbitragem, de prejuízos e benefícios. Todos sabemos o que foi o Apito Dourado. Todos sabemos que os méritos da gestão desportiva do FC Porto foram alavancados pelo controlo dos principais poderes, incluindo o da arbitragem. Pinto da Costa, nestas alturas, faz-se esquecido. A falta de memória não é, contudo, uma falha no cérebro. É apenas um visitante deste ‘circo’. Para confundir e voltar a baralhar. Estamos no auge de uma luta de poder entre Benfica e FC Porto. E, no plano da tentativa de controlar a arbitragem, deveria haver decoro e vergonha. Ninguém está em condições de se arvorar em dono da moral, e esse é o maior problema - a percepção de que os adeptos papam tudo. Não papam: há muita gente que adorava futebol e deixou de ir aos estádios. Lamentável.
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