sábado, 29 de fevereiro de 2020

UMA CAMBADA DE PEIXEIROS



Lá está!, fala quem sabe. Em baixo, declarações de António Boronha ao notícias ao minuto.

O meu 'discurso' sobre o 'Estado da Nação', futebolística, entenda-se.
[Numa conversa franca e aberta, ontem, com o 'Notícias ao Minuto']

Benfica, Sporting, FC Porto e Sporting de Braga, as quatro equipas portuguesas que garantiram o apuramento para os 16 avos de final da Liga Europa, acabaram eliminadas da prova da UEFA numa fase precoce, logo depois da fase de grupos. Foi um descalabro total da armada lusa na Europa e que obriga a que seja feita uma "reflexão profunda" a respeito da competitividade do futebol português, no entender de António Boronha.

O antigo vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) esteve à conversa com o Desporto ao Minuto, que procurou, junto do dirigente, encontrar uma explicação para esta autêntica razia dos emblemas lusos nas competições da UEFA em 2019/20.
"Falando contra mim, como dirigente, devo dizer que tenho 71 anos e vejo futebol desde os cinco ou seis. E a que assisti nos últimos 30 ou 40 anos? A uma subida do nível cultural e social dos jogadores e dos treinadores. E, em contrapartida, um decréscimo na qualidade dos dirigentes. Os dirigentes de há 50 anos eram referências, hoje parecem uma cambada de peixeiros, com todo o respeito pelos peixeiros. De forma que o problema dos maus resultados do futebol português a nível de clubes - não ao nível das seleções - parte muito da falta de qualidade da direção dos clubes", apontou António Boronha, que insistiu nas críticas à forma como os clubes são dirigidos em Portugal.
"Podemos falar das seleções, dos ótimos treinadores que temos - não há nenhum país com tantos bons treinadores espalhados pelo mundo como nós temos, um país com 10 milhões de habitantes - dos resultados que temos ao nível das seleções jovens e da formação... Qualidade e jeito para jogar à bola nós temos. Treinadores capazes e eficazes, como tem sido demonstrado ultimamente, também. José Mourinho, Jorge Jesus, Luís Castro, Paulo Sousa, Nuno Espírito Santo... são treinadores que dão cartas em todo o lado. No entanto, os dirigentes são um descalabro. De um modo geral, pois existem exceções, evidentemente", prosseguiu.
O antigo dirigente fez ainda questão de apontar o dedo aos comentadores que, tendo a oportunidade de defender os seus pontos de vista na televisão, acabam por provocar um ambiente em torno do futebol português que em nada beneficia o desenvolvimento da modalidade no nosso país.
"Depois, existe outro epifenómeno, que são aqueles programas desgraçados das televisões generalistas com comentadores que não são objetivos, imparciais, frios ou calculistas. Em vez disso, temos um reality show. O que isto provoca nos adeptos são paixões exacerbadas com as consequências que todos nós sabemos. Este conjunto de situações explica por que o futebol português tem bons praticantes, bons treinadores, mas maus resultados", defendeu.
Por um futebol mais racional
Para António Boronha, qualquer análise que se faça a este assunto tem de ser baseada na "razão", algo que, no seu ponto de vista, escasseia no futebol português.
"Deveria haver uma reflexão profunda. Menos paixão e mais razão. Não consigo explicar isto, mas realmente é estranho que, tendo quatro equipas nos 16 avos de final, sejam eliminadas todas. É uma coisa inaceitável e quase incompreensível", afirmou, antes de se pronunciar especificamente sobre os problemas que têm afetado as prestações de Sporting, Benfica e FC Porto.
"O caso do Sporting é flagrante. O Sporting é eliminado porque é uma equipa onde não há nada, não há uma estrutura, está em crise permanente. O Benfica há dois meses que perde, empate ou ganha pela diferença mínima. O FC Porto está em constantes altos e baixos. O Benfica tem qualidade, tem um grande plantel. Do Sporting não diria tanto. Mas, perante o adversário que era, porque há que ter em conta os adversários... o Benfica, o FC Porto ou o Sporting não estavam a defrontar o Barcelona, o Real Madrid, o Inter ou a Juventus. Nada disso. Eu não culpo os jogadores, isso é o mais fácil de fazer. Eu penso que, de um modo geral, os jogadores portugueses têm mérito total no estrangeiro, em equipas como o Wolverhampton, que é uma equipa mais portuguesa que as equipas portuguesas. Quer na direção técnica, quer nos protagonistas no campo. O jogador português tem uma qualidade extraordinária, relativamente à dimensão do país. Portanto, há que encontrar explicações", referiu.
A falta de competitividade e o papel da FPF
Uma das razões apontadas para o fraco desempenho das formações lusas na Europa foi a suposta falta de competitividade patente no primeiro escalão do futebol português. Uma ideia que merece a aprovação de António Boronha.
"Falta de competitividade na I Liga? Com certeza. É um facto. Vamos a Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, Itália... e vê-se competição. Aqui não. Agora está um pouco melhor, mas porque o campeonato foi nivelado por baixo, não por cima. Aqui em Portugal, as equipas chamadas 'pequenas' cresceram muito, mas os 'grandes' caíram. Lá fora, isso não aconteceu, são competitivos. Aqui, eram os 'três grandes' e os outros palhacinhos. A Liga tem responsabilidade nisto, mas a Liga são os clubes, não são? Não é só o Pedro Proença", explicou.
"Depois, há a questão dos calendários. Nós temos dos calendários mais folgados comparativamente com outros países. Há países que têm invernos rigorosos e têm de parar durante três meses. Nós temos uma Liga pausada. Há que falar também nas transmissões em direto, que transformam isto num negócio. E têm de perceber se se preocupam com o negócio ou com o desporto. Eu não digo para esquecermos as transmissões televisivas, mas tem de se lidar com a situação de uma forma muito mais racional e eficaz, com a salvaguarda do espetáculo e da competitividade", continuou, para, de seguida, tentar encontrar a solução para todos estes problemas.
"Solução? A Federação tem um papel importante, nomeadamente nos dias de hoje, pois tem autoridade e credibilidade. Portanto, a Federação, juntamente com o Governo, no que diz respeito aos adeptos e a questões laterais ao futebol, podem remediar a situação. Mas isto é um problema complicado e nós sabemos que o futebol, nomeadamente os clubes, vivem do imediato, não do amanhã. No futebol português, vive-se no curto prazo. Quem vier atrás, que feche a porta. Como se resolve este problema? Talvez uma desinfestação fosse necessária, mas quem pode fazê-la? A Federação pode promover melhorias neste aspeto, e o Governo também. Há medidas que podem ser tomadas", considerou.
Luz ao fundo do túnel
Para António Boronha, o cenário é tão negro que o futebol português não pode bater mais fundo: a partir daqui, as coisas apenas podem melhorar.
"Só vejo sinais de que as coisas vão melhorar, pois fazer pior é impossível. Só por isso. Pouco mais temos para cair. Não no que diz respeito à qualidade dos nossos executantes ou dirigentes técnicos, mas sim no que diz respeito à capacidade - ou incapacidade - dos dirigentes das estruturas que tutelam os clubes e o futebol. Tem de haver uma reflexão profunda a este nível. Pior é impossível, por isso acredito que as coisas vão melhorar no curto-médio prazo", antecipou.

Parasitas, figurantes e o… ‘futebol português'?



Um vendaval.
No final do mês de Fevereiro, não há uma única equipa portuguesa nas competições europeias. E, se a eliminação da Champions não representa qualquer surpresa, face às diferenças que se estabelecem entre os principais emblemas do futebol europeu, o afastamento de todos os conjuntos portugueses da Liga Europa não deveria deixar de fazer soar as campainhas.
Contudo, após uns artigos que se vão escrever e uns debates que se vão seguir nos próximos dias, o essencial não mudará: poucos são aqueles que, agarrados às suas quintinhas e mordomias e aos seus grandes e pequenos poderes, farão alguma coisa para olhar menos para a árvore e mais para a floresta.

No futebol, às vezes, há situações de superação ou de insuperação que fogem às dinâmicas da consistência. No caso da eliminação de todas as equipas portugueses das competições europeias, ela acontece num momento em que a consistência maior se relaciona com o ambiente de desagregação e de conflitualidade institucional entre os nossos principais emblemas.

Está na cara de toda a gente, mas quem pode reconhecer os erros de anos a fio — agarrados às vantagens que granjearam no passado — não o faz. Porque o sistema em geral, no qual se enquadra o sistema de comunicação dos próprios clubes, que pesa toneladas e só deixa passar aquilo que é conveniente para a salvaguarda da imagens das instituições e dos seus líderes, está viciado.

Viciado, porquê? O sistema beneficia ‘dois clubes e meio’ — Benfica, FC Porto e… Sporting (em meia dose) — e tudo o resto são cantigas. O próprio SC Braga, que se desunha para tentar encontrar o seu espaço de afirmação, dá-nos sinal de que não pode combater aqueles que, aqui e ali, gostam de se fazer passar por seus padrinhos. As independências e as autonomias não passam de estados de alma, porque no fundo o sistema não as consente e, na prática, valem muito pouco.

Se repararem bem, tudo o que tenha a ver com decisões tomadas por órgãos formalmente independentes e que não sejam convenientes aos clubes que se viciaram no protesto, no recurso e nas mais imaginativas construções de repúdio, o mecanismo é sempre o mesmo: toca a usar a betoneira para se despejar o betão sobre quem tem a ousadia de produzir decisões (mesmo que sustentadas) contra ‘os nossos interesses’. Este é um vício cuja dimensão não tem paralelo na Europa, talvez só ao nível das grécias. Mas se tudo é posto em causa, os governos (que se colocam a jeito), os tribunais, a comunicação social, como não colocar em causa tudo o que tenha a ver com decisões que emanam do próprio movimento associativo e dos seus órgãos jurisdicionais?

Faz algum sentido que a esmagadora maioria dos clubes profissionais portugueses esteja completamente dependente das bolsas de opinião fomentadas dentro e na periferia dos chamados clubes ‘grandes’? Faz algum sentido a inexistência de um esforço colectivo, ao nível da distribuição das receitas,  para desagravar o fosso enorme que existe para os clubes médios e pequenos? Não faz, mas quem fomenta a situação dominante de desequilíbrio acha-se sempre mais forte. Isso já nem é verdade a nível nacional e, internacionalmente, a nível da competição inter-clubes, é o que se vê.

É um problema antigo, que se agravou nos últimos tempos, porque o foco está colocado nas questões laterais e na espúria rivalidade. Tudo serve para estigmatizar o que ainda existe de anti-seita. É este conceito de seita, de não olhar para os próprios erros e não haver preocupação sobre o negócio que deveria ser cuidado de todos para todos e não apenas de uns para alguns, que está a arruinar o futebol português.

Temos problemas de representatividade (ética).
Temos problemas de competitividade.
Temos problemas de mentalidade.
Temos problema de funcionalidade.
Temos problemas de credibilidade.

O futebol português tem dado mais força aos figurantes e aos parasitas do que propriamente àqueles que poderiam e deveriam concentrar as energias para atacar os problemas reais.

Enquanto for assim, enquanto não houver uma mobilização colectiva para melhorar a competitividade média da Liga Portuguesa (futebol mais intenso e menos posicional), a Europa ficará cada vez mais longe. E começa a ser claro que, ou por problemas de gestão ou por problemas na área da intermediação (não quero pensar noutro tipo de problemas… marginais), as equipas portuguesas já souberam comprar mais e melhor.
O panorama é negro, mas vão continuar a assobiar, acreditem. Até não haver mais terra para queimar.
 

JARDIM DAS ESTRELAS - A luz no túnel

Enquanto as equipas portuguesas deixam de jogar, em Fevereiro, nas competições europeias, temos um Cristiano Ronaldo incapaz de se conformar e de se reformar; temos Diogo Jota e Rúben Neves a marcar golos; temos Jorge Jesus a afirmar-se como papa-títulos no Brasil e temos um conjunto alargado de jogadores e treinadores a demonstrar que são capazes de dar respostas… Continuo a pensar que Portugal é, em proporcionalidade, um fenómeno à escala mundial. Poderia ser um super-fenómeno se, em contraponto, não cultivasse um conjunto de bizarrias internas, que começam na obsessão de controlar tudo e todos e não respeitando ninguém, nem a própria sombra. O que se passa em Portugal é ultrajante, mas o que mais choca é a impunidade e a consagração da ideia de que os heróis devem ser os controladores do submundo. A quantidade invulgar de fazedores de heróis é perturbante. E por isso o futebol português está como está. Agarrado ao ruído e nas mãos dos parasitas e figurantes que alimentam e engordam os (falsos) heróis.


O CACTO - Só se for na Cochinchina

O afastamento das equipas portuguesas das provas europeias é um problema bem mais profundo, mas nesta eliminatória os respectivos treinadores cometeram muitos erros:

RÚBEN AMORIM - Cotação em alta, perfil elogiado sem favores, mas a falta de maturidade também se viu nos dois jogos frente ao Rangers. O que é… natural!

SÉRGIO CONCEIÇÃO - Não merece a situação que se construiu à sua volta, o Bayer é melhor, mas as opções que fez não resultaram. 

JORGE SILAS - Fica difícil explicar como é que a equipa se equilibra nos últimos jogos e depois é o próprio treinador a promover os desequilíbrios. Inaceitável.

BRUNO LAGE — Disse que, frente ao Shakhtar, se viu um ‘Benfica à Benfica’. Onde? Na Cochinchina? As alterações permanentes e a falta de consistência estão na base de tudo. Errático. 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

BRUNO LAGE NÃO TEM NÍVEL PARA O BENFICA

Quem o afirma na Rádio Renascença é um antigo dirigente do Benfica que tive oportunidade de conhecer há uns anos, quando o recebi na minha ilha e no meu escritório numas férias com a esposa.
 
Uma voz a ter em conta e um passado como dirigente do Benfica de se lhe tirar o chapéu.
Pode clicar no link e ouvir nos áudios todas as declarações de Gaspar Ramos.
 
Estou à vontade para criticar Bruno Lage, não retiro uma virgula ao que aqui escrevi quando foi apresentado como treinador do Benfica. São 'carvalhices' a mais para o meu gosto. Também já lhe fiz elogios, aqui.
Mas, subscrevo inteiramente estas declarações do meu amigo Gaspar Ramos.


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

FINALMENTE SAMARIS A TITULAR

Lá está!, parece que Bruno Lage começa a reabrir os olhos. O grego Samaris vai hoje a jogo de início em Barcelos.


 ,

domingo, 23 de fevereiro de 2020

HOJE FOI ASSIM COM DOIS DOS DITOS GRANDES


O ESTADO DO FUTEBOL PORTUGUÊS VISTO POR QUEM SABE

«Recordando o Mestre da Laranja Mecânica»

Rinus Michels, o único treinador holandês que venceu um título com a laranja mecânica e merecia ter vencido mais. 

Estou-me a lembrar, assim de repente, daquela final do mundial de 1974 disputado na Alemanha e em que perdeu por 2-1 na final com os anfitriões (2º vídeo em baixo), mais tarde foi recompensado com a vitória no Euro 1988 por 2-1 frente à antiga União Soviética (3º vídeo). 

Foi ele o pai do Futebol Total, orientou essa selecção que foi à final do mundial de 1974 e ainda deixou trabalho feito para quatro anos mais tarde os holandeses voltarem à final de mais um mundial -  o de 1978, disputado na Argentina e, sem Johan Cruyff, que por razões políticas declinou a presença nesse mundial. Ver ficha de treinador, aqui!


 

sábado, 22 de fevereiro de 2020

A ÉPOCA DOS 7-1 FOI MEMORÁVEL

Há coisas no futebol que são deveras impressionantes. Aquele 14 de Dezembro de 1986, em Alvalade, ainda hoje é lembrado por muitos sportinguistas. 

Realmente, foi um jogo épico para os sportinguistas e de enorme tristeza para os benfiquistas (1º vídeo). Mas, essa época de 1986/87 trouxe boas recordações às águias e dragões. 

É que, depois desses 7-1, o Benfica conseguiu a dobradinha e apurou-se para a Taça dos Campeões Europeus da época seguinte com a conquista do campeonato (2º, 3º e 4º vídeos). 

Nesses longínquos tempos, só o campeão de cada país ia à maior prova europeia de clubes. O Benfica chegou à final, mas perdeu nos penalties (penúltimo vídeo). 

É bom recordar que também no final dessa época de 1986/1987, o FC Porto sagrou-se Campeão Europeu (último vídeo), sendo considerado o feito da época.

 

NA HÁ IDADE PARA SER FELIZ

QUE FEZ SAMARIS PARA ESTAR PROSCRITO?

Ora aqui está um tema melindroso para alguns, é algo que também não entendo. 
Samaris com Rui Vitória já pouco contava e com Bruno Lage esta época tem sido a mesma coisa. 



O Benfica perdeu 6 dos 7 pontos que tinha de vantagem, no campeonato, sobre o FC Porto e, de repente, colocou em risco a renovação do título.
O Benfica é, em Portugal, uma parte por mérito próprio, a equipa que reúne mais possibilidades de ser campeã nacional. O crescimento do Benfica tem um preço: ser campeão é normal; não ser campeão é dramático — e, na verdade, não o deveria ser.

Não parece nem sequer objecto de grande discussão que a consolidação desportiva do Benfica seja uma realidade num momento de maior fragilidade do FC Porto e do Sporting, ao mesmo tempo que se assiste à tentativa do SC Braga em fazer corresponder o seu crescimento infra-estrutural a uma adesão maior por parte de potenciais associados e do V. Guimarães em não deixar o pelotão da frente.

O Benfica está na final da Taça de Portugal, depois de uma meia-final com o Famalicão, em cujas duas mãos — casa e fora — a equipa de Lage não convenceu. A este mais recente ciclo de 4 jogos sem vencer, o que é invulgar no clube da Luz, devem juntar-se mais alguns jogos em que a equipa do Benfica parece engasgada. Não desenvolve, nem quando tem a bola, nem principalmente quando não a tem, o que faz com os ‘encarnados’ tenham sofrido golos em todos os últimos compromissos — 11 em 6 jogos.

Agora, na Ucrânia, o resultado voltou a ser melhor do que a exibição, embora seja de reconhecer que Bruno Lage ensaiou uma nova fórmula — com Pizzi por dentro e Chiquinho de fora para dentro, ainda que sem Rafa e sem Vinicius de início, juntando-lhes, no meio-campo central, Florentino e Taarabt.

As alterações não resultaram numa redinamização da equipa, porque o problema, sendo global, tem a ver, também, com a quebra de ‘forma’ (física e mental) de alguns jogadores, entre os quais os casos mais evidentes são os de Ferro, Grimaldo e Pizzi, sendo que — tirando o caso de Vlachodimos, verdadeiro ‘abono de família’ da equipa — todos os outros revelam inconsistências várias.

Ainda com RDT, Bruno Lage fez experiências atrás de experiências, como se estivesse num laboratório de química, dia e noite, à procura da fórmula ideal para conseguir a melhor combustão ofensiva. Parece tê-la encontrado com Rafa e Vinicius — e com Cervi à esquerda; solucionado esse problema, com a contratação de Weigl e as garantias dadas por Gabriel, o Benfica parecia destinado a fazer uma equipa muito forte para ‘atacar’ todas as frentes.

A verdade, porém, é que — por razões clínicas e oftalmológicas — Gabriel deixou de contar (Fejsa e Gedson já se tinham ido embora)  e então começaram novos serões laboratoriais, na procura da fórmula químico-futebolística capaz de proporcionar a melhor ‘faísca’ defensiva, mas também a ligação para os criativos da frente.  Toda a gente percebe que a estabilidade dinâmica depende da conciliação dos diversos sectores de uma equipa, das compensações e das ações concertadas entre laterais e médios interiores;  quanto melhor os treinadores tratarem as partes, melhor será o todo. Mas é o todo que, em cada jogo, é testado — e esse todo no Benfica não está a funcionar.

Sem Gabriel no lote de opções para a dupla de médios, restam Florentino, Weigl e Samaris. Pensava-se que, à razão de 20M€, Weigl iria fazer com Gabriel uma dupla de betão, mas no futebol as coisas são como são: Weigl ainda não se impôs totalmente e Gabriel deixou de contar. De repente, algo que era uma solução tornou-se num problema. Na Ucrânia, por força do castigo do médio germânico, jogaram Florentino (dois meses ausente da equipa principal) e Taarabt.

Esta ideia do ‘superTaarabt’ também me parece excessiva.

Se juntarmos a uma opção ela própria a transportar o seu próprio estigma (longa ausência de Florentino) as alterações que Bruno Lage produziu, na constituição e nas movimentações, havia fortes possibilidades de as coisas não correram bem. E não correram. O resultado deixa tudo em aberto e, no âmbito da eliminatória, abre esperanças de apuramento. Mas o problema é o nível de rendimento e o futebol (não) jogado. Com o FC Porto, duas vezes com o Famalicão, com o Braga e com a B, SAD. Lage não está em boa forma: no Dragão foi um desastre e, genericamente, no último mês e meio pareceu sempre algo perdido. E há uma coisa que não se entende: relegar Samaris para a condição de ‘patinho feio’.

"Patinho feio", porquê? Foi com Samaris que o Benfica desenvolveu uma das suas melhores faces com Bruno Lage, não apenas por força do acrescento de dinâmicas positivas, mas sobretudo pelo compromisso. Não há jogador que se comprometa mais e, com Samaris a ser permanentemente relegado, aquela entrada, na Ucrânia, aos 90+2  minutos, se não foi castigo, pareceu. Não sei qual é o defeito de Samaris e não merece ser tratado como proscrito.  Vale como jogador e vale como ‘alma’ (do Benfica).

 

O CACTO - Marega e o país

Manifestações de racismo são manifestações de racismo — e imitar o som de macacos é uma manifestação de racismo. Ponto. Intolerável. Irrelativizável.

Não se teria passado nada, contudo, se Marega — ferido na sua dignidade — não tem tomado a decisão de abandonar o campo.

Não foi ‘o país’ que defendeu Marega. Foi Marega quem se defendeu a si próprio. Foi Marega quem se defendeu do país. Porque durante anos e durante décadas, ‘o país’ nunca se inquietou, na sua expressão política e comunicacional, perante dezenas, centenas e milhares de situações idênticas, ocorridas em recintos desportivos. Na divisão principal e nos escalões secundários. No futebol profissional e no futebol não profissional. Também nos pavilhões. Mas também nas ruas, nas famílias e nos empregos. A hipocrisia andou de mãos dadas com a revolta.

Cada manifestação de racismo devia ser acompanhada de um protesto colectivo. As vítimas de racismo deviam fazer, todas, como Marega. Abandonar (o palco — seja ele um relvado, um asfalto ou um sobrado).

Fez mal ‘o país’ em se manifestar da maneira que se manifestou no apoio a Marega? Não. Fez bem.

Este país, contudo tão normalmente silencioso e passivo contra o mesmo ou outro tipo de crimes, no desporto ou fora dele é o mesmo país que não se convoca para condenar todo o tipo de abusos e excessos, principalmente no incitamento ao ódio entre adversários. Quem se manifestou para impedir que os habituais  fautores e instigadores de ódio se colocassem, agora, na primeira fila dos centuriões?…

O gesto de Marega só terá significado se houver consequências e ‘o país’, este país, perceber que não se pode pactuar com nenhum tipo de violência — e isso muitos continuam a desprezar, parecendo heróis.
daqui

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

CASO MAREGA: UMA PATETICE PEGADA

Como postou o meu amigo Rui Vieira no seu facebook, aqui vos deixo uma visão esclarecedora de quem viu e ouviu e sabe toda a história do antes e do depois, até chegarmos a esta patetice pegada. 




 Adepto Vimaranense revela a sua versão do caso Marega

“Vamos então ao “Caso Marega”.”

"Em volta do sucedido no passado domingo no estádio D. Afonso Henriques durante o jogo entre Vitória e Porto, relativamente ao atleta Marega, anda demasiada poeira no ar e demasiado ruído de fundo para resistir a escrever algumas linhas sobre um assunto que na sua relativa insignificância parece ter-se tornado uma prioridade do país e, pasme-se, das suas principais figuras políticas.
Ao sabor de um populismo, uma futilidade e uma irresponsabilidade que merecerá, certamente, análise noutras instâncias que não as desportivas.
Vamos então ao “Caso Marega”.
Não começa no passado domingo, como alguns poderão pensar, mas sim em 2014/2015 quando ele depois de uma carreira sem qualquer relevo e passada em clubes de divisões inferiores chega à Madeira para representar o Marítimo, onde a par de começar a revelar talento para o futebol revela também uma preocupante queda para a indisciplina e o descontrolo emocional que viriam a valer-lhe multas e suspensões disciplinares pelo clube.
Ainda assim na primeira época faz dezasseis jogos e oito golos e desperta atenções.

Na primeira metade da época seguinte continua na Madeira, onde faz sete golos em dezoito jogos, e em Janeiro de 2016 é transferido para o FC Porto onde em 13 jogos faz apenas um golo e se transforma em alvo preferido do anedotário azul e branco face às suas exibições e aos golos falhados, sendo nas redes sociais e no estádio alvo de frequentes insultos e chacota.
São factos.
No final de época, completamente desvalorizado, sem lugar no plantel portista e sem ter quem lhe pegasse consegue ainda assim ser emprestado ao Vitória perante a perplexidade dos vitorianos que não entendiam o interesse no jogador.
Pese embora isso a partir do momento em que vestiu a camisola vitoriana (a branca ou a preta) foi recebido, apoiado e acarinhado como qualquer outro jogador de qualquer raça ou nacionalidade que vem para Guimarães e recebeu aplausos quando os mereceu e alguma reprovação quando as suas exibições não agradavam aos adeptos exactamente como qualquer outro jogador do clube.

Um dia, frente ao Nacional, com o jogo parado e sem qualquer motivo em mais uma exibição de descontrolo emocional, não arranjou melhor para fazer do que dar um estalo num adversário, ser expulso e deixar a equipa reduzida a dez unidades ainda no decorrer da primeira parte.
Não contente com isso, ao sair do relvado insultou por palavras e gestos os adeptos do Vitória (os tais que agora diz sempre ter respeitado, mas é uma das muitas mentiras de que adiante falaremos) e ausentou-se do estádio partindo tudo o que lhe apareceu à frente no balneário da equipa em mais uma manifestação de puro descontrolo.
Mesmo com esses comportamentos, a SAD do Vitória resolveu não deixar cair o jogador (o que poderia ter significado o fim da sua carreira) e procurou reintegrá-lo no grupo com compreensão pela sua forma de estar ao mesmo tempo que os adeptos também lhe perdoaram o comportamento e continuaram a apoiá-lo como se nada se tivesse passado.
Mais, até para sermos rigorosos.
Marega acabou por fazer uma excelente época, marcando 14 golos em 31 jogos, tornando-se um ídolo dos adeptos que com ele festejavam as vitórias e choravam as derrotas como na final de Taça frente ao Benfica em que o jogador quando descia da tribuna após receber a medalha e finalista quase se envolveu em confrontos com um espectador por força de uma “boca” que ouviu e de que não gostou.
Os colegas evitaram que algo acontecesse, mas o descontrolo estava, uma vez mais, lá.

No final da época regressou ao FC Porto, reabilitado e com o prestígio em alta, fazendo questão de agradecer publicamente ao Vitória e aos vitorianos tudo que tinham feito por ele e pela sua carreira.
Nos dois anos seguintes sempre que Vitória e FC Porto se encontravam Marega era aplaudido pelos adeptos vitorianos (como na época passada em que saiu lesionado no jogo em Guimarães e foi aplaudido de pé) e em contrapartida nos vários golos que marcou ao Vitória teve sempre o gesto de não os festejar como forma de mostrar o respeito a um clube ao qual assumia tanto dever.
Como já no presente campeonato tinha acontecido no jogo da primeira volta em que Marega fez dois golos e não festejou nenhum deles.
E chegamos a domingo passado.
No qual começo por deixar uma nota pessoal.
Sendo sócio com lugar anual na bancada nascente, precisamente aquela em frente à qual tudo se desenrolou, cheguei ao estádio ainda as equipas não tinham subido para o aquecimento, pelo que tive oportunidade de presenciar tudo quanto se passou. Vi e ouvi. Não me contaram.
E o que vi foi o FCP fazer parte do aquecimento perto da bancada nascente e alguns adeptos vitorianos mais próximos do tereno de jogo (quatro ou cinco) aproveitarem para mandarem algumas “bocas “aos jogadores adversários como acontece em todos os estádios de todo o mundo, especialmente com os guarda-redes, sem que isso acarrete problemas.
Há vídeos, gravados com telemóveis, dessas “bocas” que, não sendo obviamente simpáticas, também não têm qualquer cariz racista, nem nada que se pareça, pelo que a alegação de Marega e dos responsáveis do FC Porto sobre o assunto são mentira. Uma das várias.

Aliás, se isso tivesse acontecido - os insultos racistas - seria incompreensível que não os tivessem comunicado de imediato ao árbitro e aos delegados da Liga.
No decorrer do jogo, tudo se processou com absoluta normalidade, sem insultos de qualquer espécie (outra mentira de Marega & Cia) especialmente em relação a Marega que vinha produzindo uma exibição tão discreta que quase passava despercebido.
Na única vez em que se mostrou foi quando isolado atirou ao lado da baliza de Douglas, gerando algumas manifestações de descontentamento nos adeptos do... FC Porto, que não se conformavam com semelhante falhanço.
A normalidade foi de tal ordem que ao intervalo ninguém do FC Porto denunciou junto de árbitro e delegados da Liga qualquer tipo de anormalidade.
E chegamos ao fatídico minuto 60.
Em que Marega faz golo e perante o espanto de todo o estádio em vez de festejar junto dos adeptos portistas ali por trás da baliza resolve correr umas dezenas de metros para ir provocar por gestos e palavras os adeptos vitorianos...
...Que reagiram (que adeptos de que clube não o fariam?) de forma indignada com vaias, insultos e arremesso de cadeiras ao jogador não por ele ser negro, mas pelas atitudes que tomou perante adeptos que, ainda por cima, sempre o tinham acarinhado. Se o golo tivesse sido de Otávio, que também passou pelo Vitória (ou de Soares se tivesse jogado e também ele ex-vitoriano), a reacção teria sido exactamente a mesma porque o que estava em causa era a atitude e não a cor da pele.
Depois foi o que se sabe, nos dez minutos em que a indignação de Marega lhe permitiu continuar em campo. Cada vez que tocava na bola era vaiado, insultado num coro imenso de “ Ó Marega vai para o c....” mas sem qualquer cântico racista ao contrário das mentiras propaladas pelo jogador e por alguns responsáveis do FCP. 
Não houve um único cântico racista no estádio D. Afonso Henriques!
Houve, isso sim, a atitude lamentável de alguns adeptos vitorianos (dezenas? centenas? não sei quantificar nem me parece que isso alguma vez seja possível) que por breves segundos produziram alguns urros a imitar macacos o que pode ser considerado como uma atitude imbuída de racismo, mas nada mais do que isso.
Foram poucos e foram breves mas sendo identificados devem ser sancionados face à legislação existente.
Depois foi a rábula das cenas de Marega a querer sair do relvado, num descontrolo emocional (mais um) completamente despropositado mas que ainda lhe deixou tempo e disposição para provocar e insultar os adeptos vitorianos antes de desaparecer no túnel.
O que aconteceu em Guimarães foi muito desagradável não vale a pena esconder o facto.
Tem um responsável principal, o jogador profissional de futebol Moussa Marega, e alguns responsáveis secundários, alguns poucos adeptos do Vitória que contestaram o jogador com os tais urros, mas foi um episódio que sendo melhor não ter acontecido não merece de forma alguma o impacto e a divulgação nacional e internacional que está a ter por força do sensacionalismo da imprensa, do oportunismo de forças políticas e de figuras do Estado que cavalgam o populismo do anti-racismo sem sequer perceberem que não sabem do que estão a falar neste caso específico.
Há tanta gente no país a falar de cátedra sobre o que não viu, com base no que lhe contaram, no que leram aqui ou ali, no que ouviram dizer que deviam ter vergonha de ajudarem a enlamear Guimarães e o Vitória com base numa inventona que pode deixar marcas extremamente negativas na imagem de uma comunidade e de um clube.
Guimarães não é racista.
O Vitória não é um clube racista nem de racistas.
Tem mais de sessenta anos de perfeita integração de atletas estrangeiros de várias nacionalidades e raças (desde os primeiros brasileiros que vieram para Portugal pela porta do Vitória na década de 50 do século passado) muitos dos quais escolheram Gumarães para residir depois de terminarem as suas carreiras.
Tem como alguns dos seus maiores ídolos jogadores de raça negra como Ndinga (dez anos no clube, recordista de jogos com a camisola vitoriana, capitão de equipa durante vários anos) , Neno, Jeremias, Rui Rodrigues, Joaquim Jorge, Almiro, Desmarets, Soudani, Ricardo Pereira, Cafú entre tantos outros que poderia citar.
Tem nos seus valores enquanto clube a “assumpção das cores preta e branca como alusão à igualdade e à admissão de todos sem distinção de raças”.
Esta é a minha verdade sobre o que se passou no domingo no estádio D. Afonso Henriques.
A verdade de quem, ao menos, viu o jogo e assistiu a tudo que lá se passou.
Não é uma verdade absoluta, como é evidente, mas o que não é de certeza é uma mentira absoluta como tantas que por aí andam sem qualquer respeito por Gumarães, pelo Vitória, pelos vimaranenses e pelos vitorianos e que estão a lançar anátemas e a criar injustiças a que urge por cobro tão depressa quanto possível.
Porque já há quem esteja a sofrer com esta situação apenas e só por ser de Guimarães e do Vitória.
O combate ao racismo é um combate civilizacional do qual nenhum cidadão, nenhuma colectividade, nenhuma instituição estão dispensados porque significa lutar por valores humanos que não são sequer discutíveis.
Mas o combate à injustiça que o racismo é não pode ser feito com outras injustiças como a de criar bodes expiatórios para os males globais como alguns estão agora a quererem fazer com Guimarães e com o Vitória com base num incidente ocorrido num estádio e que em nada justifica isso."

Bardamerda para a maioria dos analistas

  Ansioso para ler e ver o que tem a dizer os 'cientistas da bola', depois de anteontem o Barcelona ter 'empacotado' 8 batat...