sábado, 19 de outubro de 2019

A desunião crónica e os cancros do Sporting



O Sporting tem um problema de desunião crónica para resolver, que tudo afecta — e, claro, a natureza da gestão desportiva e a equipa de futebol.
 
Um problema de desunião crónica é como um cancro. É muito difícil de curar, se não for atacado no momento certo, antes de se desenvolver e alastrar.
A desunião crónica ainda não matou o Sporting, mas está a enfraquecê-lo de uma forma irracionalmente inconcebível. É muito difícil erguer alguma coisa, no futebol do clube ou na sua periferia, enquanto a desunião prevalecer sobre tudo o resto.

A desunião crónica é o princípio e pode ser o fim de tudo.

O Sporting não morre, mas no futebol está a fraquejar perigosamente na sua dimensão desportiva e competitiva. É preciso ter a noção disso. E ter a noção que mais egos, arrogâncias, ambições descabeladas, insultos e manifestações de natureza patológica, gratuitamente violentas, vão empobrecer o Sporting a um nível que muitos imaginariam impossível.

Em dimensões diferentes, e, portanto, com menor suporte social e associativo, é bom lembrar que, embora por razões diferentes, clubes representativos como o V. Setúbal (vitorianos, não permitam, a propósito, que constitua  uma espécie de insulto associar a cidade de Setúbal ao Vitória, como parece que está para acontecer…), Boavista, Belenenses, Académica, já para não citar outros que chegaram a andar na chamada I Divisão que entretanto já se extinguiram ou perderam representatividade, foram longe em resultados e, nalguns casos, até foram campeões nacionais ou importantes no contexto europeu, e debatem-se hoje com inegáveis problemas de afirmação ou reabilitação.

O Sporting, ainda noutro patamar, é um caso singular de resiliência. Metaforicamente, é um barco que anda no alto mar a levar com a força das ondas, algumas das quais aumentadas, artificialmente, por ‘marinheiros-suicidas’ disfarçados de bóias-salvadoras. Não basta levar com o ‘mau tempo’ e com as investidas dos adversários, que querem legitimamente dominar as águas territoriais, mas também com uma incrível (auto) propensão para a sabotagem e para os actos de pirataria. As velas nos mastros estão rasgadas, há buracos no casco, água e ratos a rodos no porão, mas o barco, contra ventos e marés, lá resiste, numa trajectória errática mas ainda assim heróica e valente.

É nestas ‘condições mãoteorológicas’ (o mau tempo associado à má mão dos que tudo fazem para a embarcação submergir) e condicionados por elas — ninguém resiste a permanentes actos de sabotagem — que é preciso olhar para a responsabilidade da actual Direcção e para a gestão desportiva.

Formou-se um vórtice nas águas revoltosas do oceano leonino, que tudo contamina e puxa para o fundo. No Sporting, por isso, tudo atinge uma dimensão facilmente catastrófica. Tudo começa na dificuldade em unir. E, na equipa, tudo o que é bom parece menos bom; tudo o que é razoável passa a medíocre e tudo o que é mau transforma-se em péssimo. Parece uma maldição.

A eliminação do Sporting da Taça de Portugal, caindo aos pés do Alverca, que fez um jogo competente e maduro, é ‘vergonhosa’ mas nem sequer já cabe, neste contexto, no âmbito das ‘grandes surpresas’. Parece que nada resulta, mesmo quando — aqui e ali — se faz um esforço mínimo para resultar.

Jorge Silas, o capitão (não encartado) da embarcação, está numa posição difícil (como já estavam Keizer e Pontes), mas pelas suas palavras parece querer fazer o seu trabalho, com honestidade, pois claro, e dentro daquilo que são os seus conceitos e ideias no plano técnico-táctico, dentro de uma redoma que não faz qualquer sentido. O treinador do Sporting tem de olhar à volta e não pode dissociar-se da realidade. O terreno está minado e é nas actuais condições de ‘pressão e temperatura’ que o treinador tem de agir. Encarar o jogo de Alverca accionando um plano de rotatividade incompatível com o plano de emergência em que caiu o Sporting não faz o menor sentido. Mesmo considerando as ausências e o envolvimento de alguns jogadores nos trabalhos das respectivas selecções nacionais, o Sporting não tem um plantel em quantidade/qualidade capaz de resistir a alterações de fundo. Viu-se isso em Alverca.

O Sporting sofre de um problema global de confiança. Ninguém é capaz de pegar na palavra para unir. Frederico Varandas está na cabeça do touro sem ajudas. Desgasta-se, e sempre que fala, acossado por todos os lados, não consegue ser assertivo. Há gente, na estrutura, certamente bem intencionada, mas não está a ajudar o presidente. E ainda é preciso perceber se, em matéria de aconselhamento no apetrechamento do plantel, Frederico Varandas não foi traído. O plantel é desequilibrado e parece uma casa de recuperação de dói-dóis. Até dói.

 
JARDIM DAS ESTRELAS

 Rui Jordão
-  "Mestre da
 Arte Silenciosa"

 1. Escrevi ontem que (…) tem grande significado o facto de Rui Jordão nunca se ter querido misturar com o rumo que o futebol tomou. A sua dedicação à pintura tem um simbolismo enorme e combina duas coisas magistrais, nos dias de hoje: a arte e o silêncio. Fica aqui a minha homenagem ao "Mestre da Arte Silenciosa".

2. O Sporting foi eliminado da Taça de Portugal, num jogo (parabéns, Alverca!) em que alguns jogadores mostraram uma preparação indigente: Rosier, Luís Neto e Miguel Luís não são tão maus como pareceram. Manuel José tem razão: aquilo é ’11’ que se apresente?

3. Como é que um jogador que tem a confiança de Silas (Eduardo) é capaz de revelar uma tão fraca capacidade para… tentar agarrar o lugar?

4. Bruno Fernandes, Acuña e Bolasie não teriam feito pior (se fossem chamados à competição  desde o início) do que os jogadores mais frescos que mereceram a titularidade.

5. Não é a esconder-se do jogo que Miguel Luís vai voar. Ou está a contar com o ‘efeito Mendes’?!

6. Este Jesé… por amor de Deus!

7. "Não precisamos de heróis" — disse Jorge Silas. Mais um rombo na embarcação?

8. Benfica e Bruno Lage não subestimaram o Cova da Piedade e não se deixaram surpreender.

9. Lage aposta na sexta dupla (titular) de avançados, esta época: RDT/Vinicius. Com Pizzi em destaque.

10. Vlachodimos, Rúben Dias, Taarabt e Seferovic parecem estar reservados para o jogo (importantíssimo) com o Lyon.

 
O CACTO

Silêncio
ensurdecedor

Há silêncios e silêncios. O de Luís Filipe Vieira, depois dos incidentes protagonizados na última AG do Benfica, é ensurdecedor. Esta opção pelo ‘faz de conta’ (que nada se passou) não engrandece LFV e faz mal à imagem do Benfica. No futebol, não podem contar apenas os resultados, os troféus e as obras. Também têm de contar os métodos e as atitudes.
Artigo de opinião de Rui Santos no Jornal Record

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