sábado, 6 de junho de 2020

Regresso da violência, da mediocridade e da... ganância




Confirmou-se a pior das expectativas.
1. Queriam o regresso do campeonato, a qualquer preço, depois de uma longa paragem, que tinha de ter consequências, apesar de poucos se terem manifestado contra um regresso anti-natura.

2. Aí têm, em dose dupla: dentro do campo e fora do campo.

3. Dentro do campo, FC Porto sem talento; Benfica sem alma. Sporting… ‘verdinho’, em processamento.

4. Fora do campo, esteve para acontecer mais uma desgraça.

5. O autocarro do Benfica foi atingido por pedras; Weigl e Zivkovic tiveram de ser assistidos no hospital depois dos ferimentos causados por estilhaços de vidro.

6. Já se sabia que esta obsessão de conquista do título de campeão nacional, alimentada pelo discurso nada recomendável de dois presidentes (Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira) muito pouco preocupados com a sã competitividade desportiva e com o respeito institucional, sempre disponíveis para aumentar os níveis de excitação e intolerância, não podia dar bom resultado.

7. Em Famalicão, após o erro das autoridades em permitirem que as claques (neste caso, organizadas) pudessem circular e gerar aglomerações indesejáveis junto dos estádios, os Superdragões, que se haviam comprometido em seguir as recomendações da DGS, comportaram-se melhor do que se poderia esperar, face ao resultado negativo registado pela equipa portista.

8. Uma equipa sem rasgo, que faz tudo em esforço, debaixo da pressão exigida e protagonizada por Sérgio Conceição, que no entanto não deixou de falar em carácter e personalidade ou da falta delas.

9. A verdade é uma: há pouca qualidade individual no plantel do FC Porto.

10. Na Luz, mais do mesmo: uma equipa mal escolhida, processos esgotados numa anemia competitiva insustentável.

11. Outra vez a ‘febre Taarabt’, como se a lógica assentasse — e assenta — na fórmula ‘Taarabt+10".

12. Não é que o marroquino não tente justificar o estatuto que Lage obsessivamente lhe confere.

13. A equipa é que não se identifica com esse estatuto.

14. Cervi outra vez de fora. A repetição do erro.

15. Não seria melhor Cervi à esquerda e Rafa pelo meio?

16. Ter o Weigl no meio ou o ‘Chico dos Anzóis’ é a mesmíssima coisa.

17. O problema é de Weigl, de algum trauma ou do scouting do Benfica?

18. O João Pedro, do Tondela, naquele lugar, não faria pior.

19. Lage teve 3 meses para reflectir e introduzir alguma nuance no seu processo táctico e estratégico. Nada vezes nada. Mais do mesmo, com base no argumento da ‘confiança nos jogadores’. Que não respondem. E não correspondem à ‘confiança’ depositada.

20. E não atirem a culpa para cima dos cachecóis que estiveram a ‘assistir’ à partida. Eles deram o apoio que puderam e até foram muito disciplinados, ao contrário do que aconteceu com os descachecolados-do-viaduto.

                                                                       *** 

A mediocridade teve uma consequência terrível, no regresso da comitiva do Benfica ao Seixal. As expectativas tinham ficado muito altas, na nação benfiquista, após a derrota inesperada do FC Porto em Famalicão.

O Benfica tinha a grande oportunidade de passar para a frente e dar um passo decisivo na reconquista do título. Muitos adeptos ‘encarnados’, após a derrota dos azuis-e-brancos em Famalicão, pensaram mesmo que o título estava agora ‘no papo’. Não marcar um golo ao Tondela foi excessivo, mas — apesar de já tudo se esperar no futebol em Portugal — ninguém equacionava que o autocarro do Benfica fosse alvo de um ataque de vandalismo.

Um ataque bárbaro, que só não conheceu piores consequências por mero acaso. Bastava que as pedras tivessem atingido o motorista e o autocarro se desgovernasse para ter acontecido uma desgraça.

Enquanto quase todos se achavam concentrados nas dinâmicas do regresso da competição, ninguém — ou quase ninguém — se lembrou que, em cima das questões do controlo sanitário, iriam colocar-se as questões de sempre do futebol português, dos comportamentos e da guerrilha comunicacional, alavancadas pela longa paragem e pela obsessão de se conquistar este título, com as turbas confinadas e a reprimir demasiado a vocação-tornada-profissão de espalhar o mal.

O regresso da competição foi defendida em cima da falência do actual modelo de negócio, mas também pela ganância.

A ganância promovida pela vontade de vencer, seja lá de que maneira for. Não se querendo saber da ausência de preparação dos jogadores e das limitações provocadas por uma tão longa interrupção.

Acharam um Benfica com pouco ritmo? Mas queriam o quê? Um futebol ainda mais robotizado, acelerado por via química ou mecânica?
As pedras que atingiram o autocarro do Benfica, Weigl e Zivkovic, têm demasiadas assinaturas. Os agressores estão por identificar, mas há outros agressores no dirigismo desportivo que estão há muito identificados.

É urgente que se identifiquem os agressores e se são sócios do Benfica expulsá-los e impedi-los de entrarem em estádios, porque o que eles mereciam era passarem uns tempos na prisão. As sociedades não precisam de gente desta.

Tirando o caso de Frederico Varandas, que teve a coragem de enfrentar o monstro (das claques), há uma responsabilidade e uma conivência do dirigismo desportivo em relação ao ambiente que se criou no futebol em Portugal. O tema das claques e dos adeptos violentos, legalizados e não legalizados, foi sempre encarado com brandura e protecção, directa e indirecta, pelos Clubes e pelo Estado.

Parcimónia, hipocrisia, cinismo são os ingredientes para este ‘cocktail’ explosivo, para o qual quase todos contribuem.

Os clubes, e também o Benfica, têm de colaborar com as autoridades para um trabalho mais efectivo no sentido de não dar espaço aos adeptos violentos. As autoridades agem, se tiverem cobertura política e, neste caso do futebol, cobertura clubística.

As claques, legalizadas ou não, sentem que podem fazer o que querem, porque o ‘País’, nestas matérias, é cobarde.

Por isso, repito: não está em causa apenas quem atirou a(s) pedra(s). Está em causa todo este regime de faz de conta, que não quer saber de nada, a não ser o seu lucro directo ou indirecto.

O regime da ganância. De vencer a qualquer preço e de consagrar o regime da intolerância. Porque foi este regime que o futebol em Portugal alimentou durante anos a fio. E agora? Se não acabarem com a extensa bandidagem (casas de Pizzi, Rafa e Lage grafitadas?!) , ela acabará por capturar o que resta do futebol.

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