A Associação Nacional de Treinadores (ANTF), liderada por José Pereira, esgotaria o seu crédito se, depois da posição tomada sobre a contratação de Jorge Silas pelo Sporting, não fizesse o mesmo em relação a Rúben Amorim, ex-jogador do Benfica e recentemente ‘promovido’ pelo SC Braga para ocupar a vaga resultante do despedimento de Ricardo Sá Pinto.
1 - Já uma vez abordei este tema e o ponto está exactamente na questão relacionada com aquilo que é a actividade da um treinador de I Liga. Faz algum sentido que os treinadores sem o nível IV possam fazer TUDO o que está relacionado com a actividade de uma equipa do escalão maior do futebol em Portugal MENOS colocar o seu nome como treinador principal dessa equipa nas respectivas fichas de jogo?! É absurdo e, convenhamos, até um bocadinho estúpido. Se treinadores SEM o nível IV podem liderar, em equipas técnicas, treinadores COM o nível IV, estamos afinal a falar de quê?!
2 - Quer dizer: Jorge Silas e Rúben Amorim dão os treinos aos jogadores que com eles trabalham (quase) todos os dias, gerem os recursos e as convocatórias como bem lhes aprouver, acabam por decidir tudo o que se passa na hora-e-meia de cada competição, incluindo as substituições, mas o seu nome não pode constar nas respectivas fichas de jogo nem estão autorizados a falar em ambiente de ‘flash interview’. Isto faz sentido?
3 - Todas as profissões têm as suas especificidades e a do futebol talvez encerre uma ainda maior, porque o futebol tem as suas regras próprias e não é por acaso que ele é genericamente reconhecido como um ‘estado dentro do próprio Estado’. Os regimes jurídicos legitimam esta actividade mas já se percebeu há muito que o futebol — não estando sozinho — tem um grave problema de autorregulação e os governos fecham os olhos e fazem de conta que os incêndios, quando existem, devem ser apagados pelos próprios pirómanos, quando é caso disso. E é muitas vezes ‘caso disso’.
4 - Vem isto a propósito da parte mais relevante — e quiçá mais desinteressante para a opinião pública — do comunicado emitido pela Associação de Treinadores: "A ANTF irá propor ao Governo a alteração do Regime Jurídico das Federações Desportivas, no sentido de ser retirada aos clubes (Liga) a autonomia que, presentemente, lhes assiste para decidirem em causa própria em matérias tão sensíveis como a elaboração do regulamento de competições, assim como as consequências do seu incumprimento".
5 - Este é um ponto essencial, que defendo há muitos anos nas minhas intervenções públicas: os clubes, com escassa ou nenhuma capacidade para separar o trigo do joio e orientar a sua acção no sentido da implementação e protecção das boas práticas, não podem continuar a decidir em causa própria. Os quadros sancionatórios, por exemplo, são ridículos e irrelevantes. Os clubes, em Portugal, nem conseguem debater a ideia de que a protecção do futebol só se faz se os órgãos decisórios e as instituições tutelares tiverem a capacidade de punir comportamentos que não se coadunam com o espírito do jogo, cujo expoente máximo se encontra na Premier League, em Inglaterra.
6 - Ora se os clubes em geral, dominados pelo poder dos mais fortes, não são capazes de pôr termo a esta desconformidade, alguém tem de dizer que o rei vai nu. O organismo liderado por José Pereira colocou o dedo na ferida. Mas temo que fique a falar sozinho, porque o poder político é estruturalmente fraco (e ainda mais fraco quando estão em causa grandes poderes) e os clubes dominantes querem continuar a fazer o que lhes apetece em relação aos clubes que controlam. É claro que a Liga tinha de… estranhar!
7 - E é aqui que entra António Salvador, presidente do SC Braga. Que fez aquilo que os regulamentos (NÃO) permitem. Salvador fez aquilo que lhe apeteceu como Varandas já havia feito, com a contratação de Silas. Não se passa nada. Há sempre um Vital ou um Ferro capazes de dar a cara pelos (in)cumprimentos. E a banda segue, enquanto não houver vontade política para pôr cobro a mais esta fantochada. Sim, estamos a falar de fantoches e bonecos articulados, que fazem parte de um sistema que, este sim, coloca em causa, permanentemente, a Verdade Desportiva. A incapacidade de mudar é chocante.
8 - O despedimento de Ricardo Sá Pinto - mesmo com um desempenho fantástico na Liga Europa — estava anunciado. A ‘chicotada’ imposta por Abel Ferreira impunha uma decisão rápida. Uma decisão não amadurecida. E percebe-se agora que Rúben Amorim, para além das suas capacidades, teve sempre altíssimo patrocínio.
9 - Não é fácil, convenhamos, mas António Salvador não conseguiu levar o G-15 para o patamar que o futebol português necessitaria e está a meio da ponte entre os apoios ao Benfica e ao FC Porto.
10 - Os danos da ‘falta de nível’ de Jorge Silas e Rúben Amorim serão sempre inferiores aos danos da falta de nível do dirigismo desportivo. As dependências e as teias não deixam, internamente, o futebol português respirar. Voltarei ao tema. Feliz 2020!
JARDIM DAS ESTRELAS ** (2 estrelas)
Os tempos de Carvalhal
Notas (e protagonistas) de fim de ano:
ANTÓNIO SALVADOR - Demasiado a meio da ponte. Demasiado ‘jogador’. Quer ficar na história? Então seja mais incisivo sobre aquilo que pretende para o futebol português!
BRUNO FERNANDES - Muito boa a entrevista ao Record. E comece a pensar em tirar o título para ser treinador, porque há duas ‘skills’ que não enganam: liderança e poder de comunicação.
PEDRO RIBEIRO - A honra e a dignidade não valem nada, no futebol em que… ‘vale tudo’?!
CARLOS CARVALHAL - Genuíno, com espírito de futebol positivo, decidiu regressar a Portugal, depois de achar que o oxigénio que armazenou em Inglaterra seria suficiente para respirar, livremente, no futebol português. Não é. Este ambiente na bola indígena é pútrido, venenoso e sufocante. É uma questão de tempo. Ninguém com capacidades fica aqui muito tempo.
JORGE JESUS - Percebeu tarde que Portugal é um grande país mas que há outras realidades para além do Benfica, Sporting ou FC Porto. Foi preciso sair de Portugal para adquirir uma nova dimensão. E ainda estará a tempo de conquistar a… Champions? Dependerá do próximo passo e da capacidade — no mercado - daqueles que o rodeiam.
RÚBEN AMORIM - O ‘nível 4’ ou outro qualquer não oferece aos treinadores competências essenciais ao nível da liderança e da comunicação, e por isso vamos ver até que ponto esta escolha de Salvador não é essencialmente… política.
O CACTO - Erros graves
Erros gigantescos de arbitragem na Taça da Liga: golo anulado a Piazon (por André Narciso), a prejudicar gravemente o Rio Ave no jogo com o Gil Vicente (VAR precisa-se!), o que desencadeou a reacção atípica de Carlos Carvalhal; expulsão de Bolasie em Portimão, com a agravante da expulsão ter sido resultante de uma descarada e grosseira simulação do jogador Willyan; e, na Taça de Portugal, no FC Porto-Santa Clara, dirigido por Fábio Veríssimo/Luís Ferreira (VAR) falta de Corona no único golo da partida. No caso do jogador do Portimonense, por se tratar de uma questão disciplinar, espera-se que o depoimento de João Pinheiro ajude a repor a verdade: Bolasie despenalizado e… Willyan castigado, por ferir a ética desportiva.
daqui1 - Já uma vez abordei este tema e o ponto está exactamente na questão relacionada com aquilo que é a actividade da um treinador de I Liga. Faz algum sentido que os treinadores sem o nível IV possam fazer TUDO o que está relacionado com a actividade de uma equipa do escalão maior do futebol em Portugal MENOS colocar o seu nome como treinador principal dessa equipa nas respectivas fichas de jogo?! É absurdo e, convenhamos, até um bocadinho estúpido. Se treinadores SEM o nível IV podem liderar, em equipas técnicas, treinadores COM o nível IV, estamos afinal a falar de quê?!
2 - Quer dizer: Jorge Silas e Rúben Amorim dão os treinos aos jogadores que com eles trabalham (quase) todos os dias, gerem os recursos e as convocatórias como bem lhes aprouver, acabam por decidir tudo o que se passa na hora-e-meia de cada competição, incluindo as substituições, mas o seu nome não pode constar nas respectivas fichas de jogo nem estão autorizados a falar em ambiente de ‘flash interview’. Isto faz sentido?
3 - Todas as profissões têm as suas especificidades e a do futebol talvez encerre uma ainda maior, porque o futebol tem as suas regras próprias e não é por acaso que ele é genericamente reconhecido como um ‘estado dentro do próprio Estado’. Os regimes jurídicos legitimam esta actividade mas já se percebeu há muito que o futebol — não estando sozinho — tem um grave problema de autorregulação e os governos fecham os olhos e fazem de conta que os incêndios, quando existem, devem ser apagados pelos próprios pirómanos, quando é caso disso. E é muitas vezes ‘caso disso’.
4 - Vem isto a propósito da parte mais relevante — e quiçá mais desinteressante para a opinião pública — do comunicado emitido pela Associação de Treinadores: "A ANTF irá propor ao Governo a alteração do Regime Jurídico das Federações Desportivas, no sentido de ser retirada aos clubes (Liga) a autonomia que, presentemente, lhes assiste para decidirem em causa própria em matérias tão sensíveis como a elaboração do regulamento de competições, assim como as consequências do seu incumprimento".
5 - Este é um ponto essencial, que defendo há muitos anos nas minhas intervenções públicas: os clubes, com escassa ou nenhuma capacidade para separar o trigo do joio e orientar a sua acção no sentido da implementação e protecção das boas práticas, não podem continuar a decidir em causa própria. Os quadros sancionatórios, por exemplo, são ridículos e irrelevantes. Os clubes, em Portugal, nem conseguem debater a ideia de que a protecção do futebol só se faz se os órgãos decisórios e as instituições tutelares tiverem a capacidade de punir comportamentos que não se coadunam com o espírito do jogo, cujo expoente máximo se encontra na Premier League, em Inglaterra.
6 - Ora se os clubes em geral, dominados pelo poder dos mais fortes, não são capazes de pôr termo a esta desconformidade, alguém tem de dizer que o rei vai nu. O organismo liderado por José Pereira colocou o dedo na ferida. Mas temo que fique a falar sozinho, porque o poder político é estruturalmente fraco (e ainda mais fraco quando estão em causa grandes poderes) e os clubes dominantes querem continuar a fazer o que lhes apetece em relação aos clubes que controlam. É claro que a Liga tinha de… estranhar!
7 - E é aqui que entra António Salvador, presidente do SC Braga. Que fez aquilo que os regulamentos (NÃO) permitem. Salvador fez aquilo que lhe apeteceu como Varandas já havia feito, com a contratação de Silas. Não se passa nada. Há sempre um Vital ou um Ferro capazes de dar a cara pelos (in)cumprimentos. E a banda segue, enquanto não houver vontade política para pôr cobro a mais esta fantochada. Sim, estamos a falar de fantoches e bonecos articulados, que fazem parte de um sistema que, este sim, coloca em causa, permanentemente, a Verdade Desportiva. A incapacidade de mudar é chocante.
8 - O despedimento de Ricardo Sá Pinto - mesmo com um desempenho fantástico na Liga Europa — estava anunciado. A ‘chicotada’ imposta por Abel Ferreira impunha uma decisão rápida. Uma decisão não amadurecida. E percebe-se agora que Rúben Amorim, para além das suas capacidades, teve sempre altíssimo patrocínio.
9 - Não é fácil, convenhamos, mas António Salvador não conseguiu levar o G-15 para o patamar que o futebol português necessitaria e está a meio da ponte entre os apoios ao Benfica e ao FC Porto.
10 - Os danos da ‘falta de nível’ de Jorge Silas e Rúben Amorim serão sempre inferiores aos danos da falta de nível do dirigismo desportivo. As dependências e as teias não deixam, internamente, o futebol português respirar. Voltarei ao tema. Feliz 2020!
JARDIM DAS ESTRELAS ** (2 estrelas)
Os tempos de Carvalhal
Notas (e protagonistas) de fim de ano:
ANTÓNIO SALVADOR - Demasiado a meio da ponte. Demasiado ‘jogador’. Quer ficar na história? Então seja mais incisivo sobre aquilo que pretende para o futebol português!
BRUNO FERNANDES - Muito boa a entrevista ao Record. E comece a pensar em tirar o título para ser treinador, porque há duas ‘skills’ que não enganam: liderança e poder de comunicação.
PEDRO RIBEIRO - A honra e a dignidade não valem nada, no futebol em que… ‘vale tudo’?!
CARLOS CARVALHAL - Genuíno, com espírito de futebol positivo, decidiu regressar a Portugal, depois de achar que o oxigénio que armazenou em Inglaterra seria suficiente para respirar, livremente, no futebol português. Não é. Este ambiente na bola indígena é pútrido, venenoso e sufocante. É uma questão de tempo. Ninguém com capacidades fica aqui muito tempo.
JORGE JESUS - Percebeu tarde que Portugal é um grande país mas que há outras realidades para além do Benfica, Sporting ou FC Porto. Foi preciso sair de Portugal para adquirir uma nova dimensão. E ainda estará a tempo de conquistar a… Champions? Dependerá do próximo passo e da capacidade — no mercado - daqueles que o rodeiam.
RÚBEN AMORIM - O ‘nível 4’ ou outro qualquer não oferece aos treinadores competências essenciais ao nível da liderança e da comunicação, e por isso vamos ver até que ponto esta escolha de Salvador não é essencialmente… política.
O CACTO - Erros graves
Erros gigantescos de arbitragem na Taça da Liga: golo anulado a Piazon (por André Narciso), a prejudicar gravemente o Rio Ave no jogo com o Gil Vicente (VAR precisa-se!), o que desencadeou a reacção atípica de Carlos Carvalhal; expulsão de Bolasie em Portimão, com a agravante da expulsão ter sido resultante de uma descarada e grosseira simulação do jogador Willyan; e, na Taça de Portugal, no FC Porto-Santa Clara, dirigido por Fábio Veríssimo/Luís Ferreira (VAR) falta de Corona no único golo da partida. No caso do jogador do Portimonense, por se tratar de uma questão disciplinar, espera-se que o depoimento de João Pinheiro ajude a repor a verdade: Bolasie despenalizado e… Willyan castigado, por ferir a ética desportiva.
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