A contratação de Weigl é apenas a marca mais visível de um novo tempo no Benfica.
A recente e repetida má participação na Champions, com o treinador ‘perdido’ – ao nível da macrocompetição europeia – em opções muito discutíveis, parece ter feito a administração do Benfica reformular as bases do projecto.
Com FC Porto e Sporting sob o efeito de problemas diferentes, a condicionarem qualquer tipo de investimento, o Benfica está numa posição de grande privilégio, em termos concorrenciais. Essa percepção, agora revisitada por mais analistas, levou-me a considerar que o Benfica podia tornar-se na ‘Juventus de Portugal’ como um crónico vencedor do respectivo campeonato nacional.
O Benfica não pode deixar de ter um olho no retrovisor, mas está claramente noutro patamar em termos nacionais, sendo que falhou, por alguma soberba, a aproximação à Champions.
O Benfica, com Jorge Jesus, não teria feito provavelmente as vendas que já fez com jogadores muitos jovens, mas a verdade é que o Benfica está a regressar, sem Jorge Jesus, ao ponto em que se encontrava, aquando da saída do actual técnico do Flamengo para o Sporting.
Quer dizer: Jorge Jesus achou sempre que os jogadores da formação deveriam ser um COMPLEMENTO ao trabalho da equipa de scouting e não a BASE do projecto desportivo. Luís Filipe Vieira e os seus conselheiros pensavam exactamente o oposto e o presidente dos encarnados chegou mesmo a proclamar – em Outubro de 2018 – que o plantel iria contar, em três anos, com 80 a 90% de jogadores formados no Benfica. Só se for em sonhos.
Parece claro que a ideia de Luís Filipe Vieira até podia ser válida para o nível de competitividade interna, mesmo correndo alguns riscos; mas os tempos recentes provaram – a quem só quer sair do Benfica, proclamadamente, depois de se sagrar campeão europeu – que a ambição na Champions não é exequível sem uma mescla de jogadores ‘locais’ e jogadores ‘de mercado’.
Em súmula: o Benfica, em 2020, ‘regressa’ a 2015 e, nestes quatro anos e pico, o que ganhou? A valorização da marca ‘Seixal’/Benfica e da imagem da formação; alguns negócios instantâneos, com o alto patrocínio de Jorge Mendes, a culminar com a venda mais inflacionada de sempre, quando Félix se transferiu para o At. Madrid.
O Benfica tem no onze-base de Bruno Lage jogadores da formação já ‘consagrados’ como Rúben Dias e Ferro, ambos com 22 anos; um outro consideravelmente rodado, como Florentino, com 20; um outro, nas mesmas condições, Gedson, na porta de saída, depois de perder tão prematuramente o comboio, e uma mão-cheia de outros bem identificados, como Jota (um caso especial), os três Tavares (Nuno, Tomás e David), entre os 18 e os 20 anos.
Nesta deambulação entre estágios de projectos diferentes, a SAD do Benfica, eufórica e positivamente condicionada pela venda de João ‘euromilhões’ Félix, ‘perdeu a cabeça’ por Raul de Tomas, quis mostrar gratidão (a Paulo Gonçalves) quando foi buscar Cádiz, inventou com Caio Lucas, conseguiu impor Vinícius à custa do sacrifício de Seferovic, e foi deixando cair Fejsa, Samaris e Zivkovic, e Cervi só não caiu em definitivo porque Rafa se lesionou e Caio Lucas não se impôs como os mais optimistas esperavam. Não esquecer o ‘contrapeso’ Taarabt, que Lage recuperou com toneladas de paciência e… oportunidades.
A chegada de Weigl ao Benfica acelera a pretensão de Bruno Lage em ter um plantel curto. É fácil de fazer as contas: dois jogadores por posição (não desprezar a polivalência de alguns atletas que podem fazer vários lugares e não desprezar o elevador que constitui a equipa B, que faz subir e descer os jogadores consoante as necessidades) e mais três jogadores de campo, a escolher entre Fejsa, Florentino/Samaris, Gedson, Zivkovic e Caio Lucas, não sendo de excluir a ainda assim improvável ‘queda’ de RDT. E se Bruno Guimarães chegar?!…
Weigl é, obviamente, face às suas credenciais, um potencial titular, para jogar com Gabriel, e o Benfica promete um meio-campo de luxo, com Pizzi e Rafa, quando este estiver ao seu melhor nível. Mas isso impõe resolução rápida em relação aos excedentários, uma vez que, na senda da pretensão muitas vezes revelada por Bruno Lage, um plantel curto, com qualidade, é mais fácil de gerir, em todos os aspectos.
Zivkovic é, claramente, um problema. Caio Lucas é ‘curto’. Fejsa (injustamente) ‘expirou’. Gedson está sem espaço. Florentino, a continuar, ficará à espera que Weigl seja um falhanço.
Weigl parece ser uma cedência à estrutura, fora do radar de Jorge Mendes, mas sobre isso também é preciso esperar pelas cenas dos próximos capítulos, porque Rui Costa no Benfica tem sido uma espécie de ‘pirilampo mágico’, ora acende ora apaga, consoante os humores do presidente.
As eleições aproximam-se e Vieira sabe o que precisa de fazer para ter a casa arrumada. Até o sócio-agarrado-pelo-pescoço se calou, em definitivo.
* Texto escrito com a antiga ortografia
JARDIM DAS ESTRELAS
(3 estrelas)
‘Liga esquecida’ de regresso
O futebol português continua engessado e incapaz de se mover, por força de interesses inconfessáveis. Já nos havíamos esquecido – face a tão longa paragem – que há uma Liga portuguesa em curso, e regressa agora com um fim-de-semana em cheio: com um clássico (Sporting-FC Porto) e com um grande jogo em Guimarães (Vitória-Benfica). Uma jornada que pode ajudar a definir o campeão 2019/20, no cenário em que o FC Porto saia derrotado de Alvalade e o Benfica passe na Cidade Berço. Neste caso seriam sete pontos para gerir. O FC Porto é favorito, possui o plantel mais equilibrado e Sérgio Conceição tem conseguido retirar rendimento da equipa, que nos últimos dez jogos só não ganhou no Jamor (B, SAD), embora com um calendário não exactamente muito exigente. O Sporting tem sempre uma palavra a dizer e, em Alvalade, vem sendo mais forte… Em Guimarães, hoje, promessa de ‘grande jogo’. Duas equipas que gostam de jogar futebol e que procuram o golo. Que o regresso da ‘Liga esquecida’ – compensada por uma overdose de jogos da Premier League – seja em grande!
O CACTO2019 sem avançosPouco ou nada se avançou em 2019, em matéria da defesa da integridade das nossas competições. O futebol português continua a produzir e a exportar jogadores e treinadores de grande qualidade, mas continua a marcar passo no que diz respeito a reformas tendentes a proteger a verdade desportiva. Nesse aspecto, está tudo na mesma ou ainda pior. Não há avanços porque ninguém quer sair da sua zona de conforto, a começar pelo Governo. Os clubes médios vivem encurralados; a FPF e a Liga não conseguem contrariar o poder (excessivo) dos clubes dominantes.
daquiCom FC Porto e Sporting sob o efeito de problemas diferentes, a condicionarem qualquer tipo de investimento, o Benfica está numa posição de grande privilégio, em termos concorrenciais. Essa percepção, agora revisitada por mais analistas, levou-me a considerar que o Benfica podia tornar-se na ‘Juventus de Portugal’ como um crónico vencedor do respectivo campeonato nacional.
O Benfica não pode deixar de ter um olho no retrovisor, mas está claramente noutro patamar em termos nacionais, sendo que falhou, por alguma soberba, a aproximação à Champions.
O Benfica, com Jorge Jesus, não teria feito provavelmente as vendas que já fez com jogadores muitos jovens, mas a verdade é que o Benfica está a regressar, sem Jorge Jesus, ao ponto em que se encontrava, aquando da saída do actual técnico do Flamengo para o Sporting.
Quer dizer: Jorge Jesus achou sempre que os jogadores da formação deveriam ser um COMPLEMENTO ao trabalho da equipa de scouting e não a BASE do projecto desportivo. Luís Filipe Vieira e os seus conselheiros pensavam exactamente o oposto e o presidente dos encarnados chegou mesmo a proclamar – em Outubro de 2018 – que o plantel iria contar, em três anos, com 80 a 90% de jogadores formados no Benfica. Só se for em sonhos.
Parece claro que a ideia de Luís Filipe Vieira até podia ser válida para o nível de competitividade interna, mesmo correndo alguns riscos; mas os tempos recentes provaram – a quem só quer sair do Benfica, proclamadamente, depois de se sagrar campeão europeu – que a ambição na Champions não é exequível sem uma mescla de jogadores ‘locais’ e jogadores ‘de mercado’.
Em súmula: o Benfica, em 2020, ‘regressa’ a 2015 e, nestes quatro anos e pico, o que ganhou? A valorização da marca ‘Seixal’/Benfica e da imagem da formação; alguns negócios instantâneos, com o alto patrocínio de Jorge Mendes, a culminar com a venda mais inflacionada de sempre, quando Félix se transferiu para o At. Madrid.
O Benfica tem no onze-base de Bruno Lage jogadores da formação já ‘consagrados’ como Rúben Dias e Ferro, ambos com 22 anos; um outro consideravelmente rodado, como Florentino, com 20; um outro, nas mesmas condições, Gedson, na porta de saída, depois de perder tão prematuramente o comboio, e uma mão-cheia de outros bem identificados, como Jota (um caso especial), os três Tavares (Nuno, Tomás e David), entre os 18 e os 20 anos.
Nesta deambulação entre estágios de projectos diferentes, a SAD do Benfica, eufórica e positivamente condicionada pela venda de João ‘euromilhões’ Félix, ‘perdeu a cabeça’ por Raul de Tomas, quis mostrar gratidão (a Paulo Gonçalves) quando foi buscar Cádiz, inventou com Caio Lucas, conseguiu impor Vinícius à custa do sacrifício de Seferovic, e foi deixando cair Fejsa, Samaris e Zivkovic, e Cervi só não caiu em definitivo porque Rafa se lesionou e Caio Lucas não se impôs como os mais optimistas esperavam. Não esquecer o ‘contrapeso’ Taarabt, que Lage recuperou com toneladas de paciência e… oportunidades.
A chegada de Weigl ao Benfica acelera a pretensão de Bruno Lage em ter um plantel curto. É fácil de fazer as contas: dois jogadores por posição (não desprezar a polivalência de alguns atletas que podem fazer vários lugares e não desprezar o elevador que constitui a equipa B, que faz subir e descer os jogadores consoante as necessidades) e mais três jogadores de campo, a escolher entre Fejsa, Florentino/Samaris, Gedson, Zivkovic e Caio Lucas, não sendo de excluir a ainda assim improvável ‘queda’ de RDT. E se Bruno Guimarães chegar?!…
Weigl é, obviamente, face às suas credenciais, um potencial titular, para jogar com Gabriel, e o Benfica promete um meio-campo de luxo, com Pizzi e Rafa, quando este estiver ao seu melhor nível. Mas isso impõe resolução rápida em relação aos excedentários, uma vez que, na senda da pretensão muitas vezes revelada por Bruno Lage, um plantel curto, com qualidade, é mais fácil de gerir, em todos os aspectos.
Zivkovic é, claramente, um problema. Caio Lucas é ‘curto’. Fejsa (injustamente) ‘expirou’. Gedson está sem espaço. Florentino, a continuar, ficará à espera que Weigl seja um falhanço.
Weigl parece ser uma cedência à estrutura, fora do radar de Jorge Mendes, mas sobre isso também é preciso esperar pelas cenas dos próximos capítulos, porque Rui Costa no Benfica tem sido uma espécie de ‘pirilampo mágico’, ora acende ora apaga, consoante os humores do presidente.
As eleições aproximam-se e Vieira sabe o que precisa de fazer para ter a casa arrumada. Até o sócio-agarrado-pelo-pescoço se calou, em definitivo.
* Texto escrito com a antiga ortografia
JARDIM DAS ESTRELAS
(3 estrelas)
‘Liga esquecida’ de regresso
O futebol português continua engessado e incapaz de se mover, por força de interesses inconfessáveis. Já nos havíamos esquecido – face a tão longa paragem – que há uma Liga portuguesa em curso, e regressa agora com um fim-de-semana em cheio: com um clássico (Sporting-FC Porto) e com um grande jogo em Guimarães (Vitória-Benfica). Uma jornada que pode ajudar a definir o campeão 2019/20, no cenário em que o FC Porto saia derrotado de Alvalade e o Benfica passe na Cidade Berço. Neste caso seriam sete pontos para gerir. O FC Porto é favorito, possui o plantel mais equilibrado e Sérgio Conceição tem conseguido retirar rendimento da equipa, que nos últimos dez jogos só não ganhou no Jamor (B, SAD), embora com um calendário não exactamente muito exigente. O Sporting tem sempre uma palavra a dizer e, em Alvalade, vem sendo mais forte… Em Guimarães, hoje, promessa de ‘grande jogo’. Duas equipas que gostam de jogar futebol e que procuram o golo. Que o regresso da ‘Liga esquecida’ – compensada por uma overdose de jogos da Premier League – seja em grande!
O CACTO2019 sem avançosPouco ou nada se avançou em 2019, em matéria da defesa da integridade das nossas competições. O futebol português continua a produzir e a exportar jogadores e treinadores de grande qualidade, mas continua a marcar passo no que diz respeito a reformas tendentes a proteger a verdade desportiva. Nesse aspecto, está tudo na mesma ou ainda pior. Não há avanços porque ninguém quer sair da sua zona de conforto, a começar pelo Governo. Os clubes médios vivem encurralados; a FPF e a Liga não conseguem contrariar o poder (excessivo) dos clubes dominantes.
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