sábado, 29 de fevereiro de 2020

Parasitas, figurantes e o… ‘futebol português'?



Um vendaval.
No final do mês de Fevereiro, não há uma única equipa portuguesa nas competições europeias. E, se a eliminação da Champions não representa qualquer surpresa, face às diferenças que se estabelecem entre os principais emblemas do futebol europeu, o afastamento de todos os conjuntos portugueses da Liga Europa não deveria deixar de fazer soar as campainhas.
Contudo, após uns artigos que se vão escrever e uns debates que se vão seguir nos próximos dias, o essencial não mudará: poucos são aqueles que, agarrados às suas quintinhas e mordomias e aos seus grandes e pequenos poderes, farão alguma coisa para olhar menos para a árvore e mais para a floresta.

No futebol, às vezes, há situações de superação ou de insuperação que fogem às dinâmicas da consistência. No caso da eliminação de todas as equipas portugueses das competições europeias, ela acontece num momento em que a consistência maior se relaciona com o ambiente de desagregação e de conflitualidade institucional entre os nossos principais emblemas.

Está na cara de toda a gente, mas quem pode reconhecer os erros de anos a fio — agarrados às vantagens que granjearam no passado — não o faz. Porque o sistema em geral, no qual se enquadra o sistema de comunicação dos próprios clubes, que pesa toneladas e só deixa passar aquilo que é conveniente para a salvaguarda da imagens das instituições e dos seus líderes, está viciado.

Viciado, porquê? O sistema beneficia ‘dois clubes e meio’ — Benfica, FC Porto e… Sporting (em meia dose) — e tudo o resto são cantigas. O próprio SC Braga, que se desunha para tentar encontrar o seu espaço de afirmação, dá-nos sinal de que não pode combater aqueles que, aqui e ali, gostam de se fazer passar por seus padrinhos. As independências e as autonomias não passam de estados de alma, porque no fundo o sistema não as consente e, na prática, valem muito pouco.

Se repararem bem, tudo o que tenha a ver com decisões tomadas por órgãos formalmente independentes e que não sejam convenientes aos clubes que se viciaram no protesto, no recurso e nas mais imaginativas construções de repúdio, o mecanismo é sempre o mesmo: toca a usar a betoneira para se despejar o betão sobre quem tem a ousadia de produzir decisões (mesmo que sustentadas) contra ‘os nossos interesses’. Este é um vício cuja dimensão não tem paralelo na Europa, talvez só ao nível das grécias. Mas se tudo é posto em causa, os governos (que se colocam a jeito), os tribunais, a comunicação social, como não colocar em causa tudo o que tenha a ver com decisões que emanam do próprio movimento associativo e dos seus órgãos jurisdicionais?

Faz algum sentido que a esmagadora maioria dos clubes profissionais portugueses esteja completamente dependente das bolsas de opinião fomentadas dentro e na periferia dos chamados clubes ‘grandes’? Faz algum sentido a inexistência de um esforço colectivo, ao nível da distribuição das receitas,  para desagravar o fosso enorme que existe para os clubes médios e pequenos? Não faz, mas quem fomenta a situação dominante de desequilíbrio acha-se sempre mais forte. Isso já nem é verdade a nível nacional e, internacionalmente, a nível da competição inter-clubes, é o que se vê.

É um problema antigo, que se agravou nos últimos tempos, porque o foco está colocado nas questões laterais e na espúria rivalidade. Tudo serve para estigmatizar o que ainda existe de anti-seita. É este conceito de seita, de não olhar para os próprios erros e não haver preocupação sobre o negócio que deveria ser cuidado de todos para todos e não apenas de uns para alguns, que está a arruinar o futebol português.

Temos problemas de representatividade (ética).
Temos problemas de competitividade.
Temos problemas de mentalidade.
Temos problema de funcionalidade.
Temos problemas de credibilidade.

O futebol português tem dado mais força aos figurantes e aos parasitas do que propriamente àqueles que poderiam e deveriam concentrar as energias para atacar os problemas reais.

Enquanto for assim, enquanto não houver uma mobilização colectiva para melhorar a competitividade média da Liga Portuguesa (futebol mais intenso e menos posicional), a Europa ficará cada vez mais longe. E começa a ser claro que, ou por problemas de gestão ou por problemas na área da intermediação (não quero pensar noutro tipo de problemas… marginais), as equipas portuguesas já souberam comprar mais e melhor.
O panorama é negro, mas vão continuar a assobiar, acreditem. Até não haver mais terra para queimar.
 

JARDIM DAS ESTRELAS - A luz no túnel

Enquanto as equipas portuguesas deixam de jogar, em Fevereiro, nas competições europeias, temos um Cristiano Ronaldo incapaz de se conformar e de se reformar; temos Diogo Jota e Rúben Neves a marcar golos; temos Jorge Jesus a afirmar-se como papa-títulos no Brasil e temos um conjunto alargado de jogadores e treinadores a demonstrar que são capazes de dar respostas… Continuo a pensar que Portugal é, em proporcionalidade, um fenómeno à escala mundial. Poderia ser um super-fenómeno se, em contraponto, não cultivasse um conjunto de bizarrias internas, que começam na obsessão de controlar tudo e todos e não respeitando ninguém, nem a própria sombra. O que se passa em Portugal é ultrajante, mas o que mais choca é a impunidade e a consagração da ideia de que os heróis devem ser os controladores do submundo. A quantidade invulgar de fazedores de heróis é perturbante. E por isso o futebol português está como está. Agarrado ao ruído e nas mãos dos parasitas e figurantes que alimentam e engordam os (falsos) heróis.


O CACTO - Só se for na Cochinchina

O afastamento das equipas portuguesas das provas europeias é um problema bem mais profundo, mas nesta eliminatória os respectivos treinadores cometeram muitos erros:

RÚBEN AMORIM - Cotação em alta, perfil elogiado sem favores, mas a falta de maturidade também se viu nos dois jogos frente ao Rangers. O que é… natural!

SÉRGIO CONCEIÇÃO - Não merece a situação que se construiu à sua volta, o Bayer é melhor, mas as opções que fez não resultaram. 

JORGE SILAS - Fica difícil explicar como é que a equipa se equilibra nos últimos jogos e depois é o próprio treinador a promover os desequilíbrios. Inaceitável.

BRUNO LAGE — Disse que, frente ao Shakhtar, se viu um ‘Benfica à Benfica’. Onde? Na Cochinchina? As alterações permanentes e a falta de consistência estão na base de tudo. Errático. 

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