O Sporting perde em Alvalade com o Villarreal e vai ser muito difícil operar a reviravolta em Espanha. O Villarreal não ganhava um jogo há dois meses e não alcançava um triunfo fora de portas há praticamente cinco meses, o que prova a fragilidade actual do adversário dos leões – penúltimo da liga espanhola e, portanto, neste momento em lugar de descida de divisão.
Foi o 21.º jogo de Marcel Keizer como treinador do Sporting e tem neste momento 57% de vitórias – embora com o troféu da Taça da Liga conquistado –, cuja média é inferior às de José Peseiro (com menos jogos) e Jorge Jesus (com muitos mais jogos), ambas a cifrarem-se nos 64%.
Marcel Keizer foi, como se sabe, uma aposta de risco. Uma aposta assumida por Frederico Varandas, recém-chegado à presidência dos leões e nada convencido com a escolha de Sousa Cintra para fazer face à saída de Jorge Jesus e à entrada de Sinisa Mihajlovic, ambas protagonizadas durante a fase final da presidência de Bruno de Carvalho.
Frederico Varandas, para além de querer um treinador da sua escolha, queria um técnico que mudasse o paradigma do futebol do Sporting: um treinador que fosse capaz de patrocinar um futebol virado para o ataque e, com ele, levar mais público a Alvalade.
Foram colocadas, naturalmente, muitas dúvidas sobre o currículo do técnico holandês e, num ápice, ele consegue dar crédito à agenda e às intenções de Varandas, construindo um ciclo virtuoso de 7 vitórias em 7 jogos – e o Sporting parecia ter-se transformado numa máquina de golos (média superior a 4 golos marcados por jogo). A derrota em Guimarães foi o primeiro sinal de que, crescendo a qualidade dos adversários cresceriam também as dificuldades do Sporting (a excepção fora o Rio Ave, em Vila do Conde), e o desaire em Tondela, da maneira como aconteceu, estabelecia então o choque incontornável entre a questão conceptual e a questão mais prosaica do rendimento em campo.
Começaram então a surgir não apenas as ‘50 sombras de Keizer’, mas também todas as questões a emergir da realidade do futebol do Sporting e que foram sendo camufladas por uma gestão racional e equilibrada de José Peseiro, não obstante os défices que, naturalmente, se poderiam identificar à superfície dessa realidade, algumas das quais relacionadas, também, com a liderança técnico-táctica, não muito do agrado do presidente Varandas.
O estado de graça de Keizer levou um safanão em Guimarães, mas perdeu-se de facto em Tondela. Porque (na altura) um ‘candidato ao título’ não pode perder como o Sporting perdeu em Tondela. A seguir veio o jogo com o FC Porto em Alvalade, durante o qual o Sporting conseguiu, aqui e ali, e genericamente, bloquear os movimentos do campeão nacional; a conquista da Taça da Liga (dois empates transformados em vitórias, no desempate por pontapés de grande penalidade, perante Sp. Braga e FC Porto) e os leões ou aparavam a juba e continuavam no seu ‘concurso de beleza’ ou caíam no charco da sua realidade mais profunda. Em abono da verdade, não constitui grande surpresa quando, primeiro no Bonfim e depois no duplo confronto com o Benfica, o Sporting já não conseguiu espetar as garras.
Não foram só os resultados. Foram as exibições. E se, no jogo em Alvalade com o FC Porto, Keizer percebeu que não basta querer jogar ao ataque para se ganhar, adaptando a equipa às realidades da competição e ao perfil do adversário, nos outros jogos a inépcia foi total.
A exibição e o desempenho frente ao Villarreal chegou a ser patético. Patético, porque os jogadores davam a sensação que estavam perdidos no campo, sem nenhuma noção da ocupação de espaços e do equilíbrio que é preciso promover entre os movimentos com bola e as movimentações sem ela.
É claro que falta muita coisa ao futebol do Sporting. Faltou, primeiro, cérebro (algo que o ex-presidente atirou para uma bacia de ácido) e, sem cérebro, para reanimar um corpo e dar-lhe de novo vida (cerebral) não basta estalar os dedos. A realidade do Sporting parece um daqueles puzzles em que faltam sempre peças. Não uma nem duas, mas muitas peças. E, quando se descobre uma, logo se perde outra. É o tal jogo autofágico, de comedores de peças, que o clube de Alvalade se tem vindo a alimentar, provocando ao leão sucessivas péssimas digestões.
Há muita coisa que falta ao Sporting fora do campo. Mas o que se viu, nos últimos jogos dentro dele, é de uma pobreza enorme. O que significa que, se os leões não conseguirem dar uma resposta capaz frente a um dos seus competidores directos no próximo domingo (Sp. Braga), o Sporting volta a debater-se (entre outros e infindáveis défices) com a falta de… treinador. Não é, Keizer? Não é, Frederico Varandas?
NOTA – A expulsão de Acuña frente ao Villarreal reflecte muito a realidade do futebol do Sporting: falta de mentalidade e responsabilidade para representar o clube de Alvalade. A falta de exigência e, às vezes, a falta de vergonha. São muitas faltas e são muitas as hienas-leoninas à espera que a carne apodreça. Com ou sem filtro.
* Texto escrito com a antiga ortografia
JARDIM DAS ESTRELAS -- 4 ESTRELAS
‘Benfica-chucha’
de ‘SpeciaLage’
O Benfica ainda não tinha vencido na Turquia até à passada quinta-feira. Fê-lo com um novo treinador, que já é uma espécie de ‘SpeciaLage’, não pelas conquistas e pelo currículo mas por aquilo que, em tão pouco tempo, conseguiu construir dentro da equipa encarnada, e fê-lo com uma nova equipa, introduzindo-lhe no onze titular seis ‘bebés do Seixal’. À partida, a ideia de desvalorizar este jogo da Liga Europa seria legítima, porque o futebol apela, em tese, a que joguem sempre os melhores, ao grau de preparação dos jogadores, que precisam de minutos de competição para evidenciarem as suas melhores qualidades, e às rotinas e mecânicas colectivas que se adquirem com o jogo e o entrosamento dinâmico. A ‘operação-Instambul’ provou que o futebol está sempre a contrariar princípios metodológicos e científicos e o ‘Benfica-chucha’, com os seus ‘Florentinos do Seixal’, mesmo sem rotinas adquiridas, tiveram um comportamento competitivo muito interessante, e isso só pode ter a ver, não apenas com a qualidade dos executantes, mas com os princípios passados pelo treinador Lage (‘SpeciaLage’, neste sentido) nos treinos e nos jogos. E, de facto, não é preciso nada de muito especial: apostas e mensagens claras – trabalho sério. Muito bem, Lage, que pode estar muito perto de ganhar o… ‘euromilhões".
O CACTO
… Mas alguém
tem dúvidas?!
Há coisas tão simples de resolver que levam uma eternidade, em Portugal e no futebol português, por causa das diligencias intermináveis, da permissividade que permite recursos para tudo e mais alguma coisa, não porque as matérias o justifiquem mas para – através dessas manobras dilatórias – alimentar a circocracia do pontapé na bola e a não assumpção de responsabilidades…
… Mas alguém neste país tem dúvidas (como não tem a acusação deduzida) que o Benfica tinha conhecimento da actividade das claques No Name Boys e Diabos Vermelhos?!… Não se brinque com coisas sérias.
Artigo de Rui Santos no Jornal Record.Marcel Keizer foi, como se sabe, uma aposta de risco. Uma aposta assumida por Frederico Varandas, recém-chegado à presidência dos leões e nada convencido com a escolha de Sousa Cintra para fazer face à saída de Jorge Jesus e à entrada de Sinisa Mihajlovic, ambas protagonizadas durante a fase final da presidência de Bruno de Carvalho.
Frederico Varandas, para além de querer um treinador da sua escolha, queria um técnico que mudasse o paradigma do futebol do Sporting: um treinador que fosse capaz de patrocinar um futebol virado para o ataque e, com ele, levar mais público a Alvalade.
Foram colocadas, naturalmente, muitas dúvidas sobre o currículo do técnico holandês e, num ápice, ele consegue dar crédito à agenda e às intenções de Varandas, construindo um ciclo virtuoso de 7 vitórias em 7 jogos – e o Sporting parecia ter-se transformado numa máquina de golos (média superior a 4 golos marcados por jogo). A derrota em Guimarães foi o primeiro sinal de que, crescendo a qualidade dos adversários cresceriam também as dificuldades do Sporting (a excepção fora o Rio Ave, em Vila do Conde), e o desaire em Tondela, da maneira como aconteceu, estabelecia então o choque incontornável entre a questão conceptual e a questão mais prosaica do rendimento em campo.
Começaram então a surgir não apenas as ‘50 sombras de Keizer’, mas também todas as questões a emergir da realidade do futebol do Sporting e que foram sendo camufladas por uma gestão racional e equilibrada de José Peseiro, não obstante os défices que, naturalmente, se poderiam identificar à superfície dessa realidade, algumas das quais relacionadas, também, com a liderança técnico-táctica, não muito do agrado do presidente Varandas.
O estado de graça de Keizer levou um safanão em Guimarães, mas perdeu-se de facto em Tondela. Porque (na altura) um ‘candidato ao título’ não pode perder como o Sporting perdeu em Tondela. A seguir veio o jogo com o FC Porto em Alvalade, durante o qual o Sporting conseguiu, aqui e ali, e genericamente, bloquear os movimentos do campeão nacional; a conquista da Taça da Liga (dois empates transformados em vitórias, no desempate por pontapés de grande penalidade, perante Sp. Braga e FC Porto) e os leões ou aparavam a juba e continuavam no seu ‘concurso de beleza’ ou caíam no charco da sua realidade mais profunda. Em abono da verdade, não constitui grande surpresa quando, primeiro no Bonfim e depois no duplo confronto com o Benfica, o Sporting já não conseguiu espetar as garras.
Não foram só os resultados. Foram as exibições. E se, no jogo em Alvalade com o FC Porto, Keizer percebeu que não basta querer jogar ao ataque para se ganhar, adaptando a equipa às realidades da competição e ao perfil do adversário, nos outros jogos a inépcia foi total.
A exibição e o desempenho frente ao Villarreal chegou a ser patético. Patético, porque os jogadores davam a sensação que estavam perdidos no campo, sem nenhuma noção da ocupação de espaços e do equilíbrio que é preciso promover entre os movimentos com bola e as movimentações sem ela.
É claro que falta muita coisa ao futebol do Sporting. Faltou, primeiro, cérebro (algo que o ex-presidente atirou para uma bacia de ácido) e, sem cérebro, para reanimar um corpo e dar-lhe de novo vida (cerebral) não basta estalar os dedos. A realidade do Sporting parece um daqueles puzzles em que faltam sempre peças. Não uma nem duas, mas muitas peças. E, quando se descobre uma, logo se perde outra. É o tal jogo autofágico, de comedores de peças, que o clube de Alvalade se tem vindo a alimentar, provocando ao leão sucessivas péssimas digestões.
Há muita coisa que falta ao Sporting fora do campo. Mas o que se viu, nos últimos jogos dentro dele, é de uma pobreza enorme. O que significa que, se os leões não conseguirem dar uma resposta capaz frente a um dos seus competidores directos no próximo domingo (Sp. Braga), o Sporting volta a debater-se (entre outros e infindáveis défices) com a falta de… treinador. Não é, Keizer? Não é, Frederico Varandas?
NOTA – A expulsão de Acuña frente ao Villarreal reflecte muito a realidade do futebol do Sporting: falta de mentalidade e responsabilidade para representar o clube de Alvalade. A falta de exigência e, às vezes, a falta de vergonha. São muitas faltas e são muitas as hienas-leoninas à espera que a carne apodreça. Com ou sem filtro.
* Texto escrito com a antiga ortografia
JARDIM DAS ESTRELAS -- 4 ESTRELAS
‘Benfica-chucha’
de ‘SpeciaLage’
O Benfica ainda não tinha vencido na Turquia até à passada quinta-feira. Fê-lo com um novo treinador, que já é uma espécie de ‘SpeciaLage’, não pelas conquistas e pelo currículo mas por aquilo que, em tão pouco tempo, conseguiu construir dentro da equipa encarnada, e fê-lo com uma nova equipa, introduzindo-lhe no onze titular seis ‘bebés do Seixal’. À partida, a ideia de desvalorizar este jogo da Liga Europa seria legítima, porque o futebol apela, em tese, a que joguem sempre os melhores, ao grau de preparação dos jogadores, que precisam de minutos de competição para evidenciarem as suas melhores qualidades, e às rotinas e mecânicas colectivas que se adquirem com o jogo e o entrosamento dinâmico. A ‘operação-Instambul’ provou que o futebol está sempre a contrariar princípios metodológicos e científicos e o ‘Benfica-chucha’, com os seus ‘Florentinos do Seixal’, mesmo sem rotinas adquiridas, tiveram um comportamento competitivo muito interessante, e isso só pode ter a ver, não apenas com a qualidade dos executantes, mas com os princípios passados pelo treinador Lage (‘SpeciaLage’, neste sentido) nos treinos e nos jogos. E, de facto, não é preciso nada de muito especial: apostas e mensagens claras – trabalho sério. Muito bem, Lage, que pode estar muito perto de ganhar o… ‘euromilhões".
O CACTO
… Mas alguém
tem dúvidas?!
Há coisas tão simples de resolver que levam uma eternidade, em Portugal e no futebol português, por causa das diligencias intermináveis, da permissividade que permite recursos para tudo e mais alguma coisa, não porque as matérias o justifiquem mas para – através dessas manobras dilatórias – alimentar a circocracia do pontapé na bola e a não assumpção de responsabilidades…
… Mas alguém neste país tem dúvidas (como não tem a acusação deduzida) que o Benfica tinha conhecimento da actividade das claques No Name Boys e Diabos Vermelhos?!… Não se brinque com coisas sérias.
Sem comentários:
Enviar um comentário