Aqui vos deixo um polémico artigo de opinião de Rui Santos no Jornal Record.
O Rui, como todos nós, tem coisas boas e outras menos boas, concordo mais vezes com ele do que discordo.
Aguardo serenamente pela Liga da Verdade no Tempo Extra da próxima terça-feira.
Aliás, aguardamos todos. Sei que a 'coisa promete'.
Rui Santos, no Jornal Record:
Rui Vitória deixou o comando técnico do Benfica. A decisão era há muito esperada e pecou por tardia.
Se Rui Vitória já nada tinha para dar ao Benfica, a verdade é que o Benfica já se encontrava em esforço para dar mais alguma coisa a Rui Vitória.
A relação há muito que estava esgotada. Era uma questão de tempo e mesmo a visão da ‘luz’ não passou de um artifício para se ganhar algum tempo na definição e na caracterização do ciclo pós-Rui Vitória. Foi um ‘tiro (mal calculado) de conveniência’, que se revelou absolutamente ineficaz.
A relação há muito que estava esgotada. Era uma questão de tempo e mesmo a visão da ‘luz’ não passou de um artifício para se ganhar algum tempo na definição e na caracterização do ciclo pós-Rui Vitória. Foi um ‘tiro (mal calculado) de conveniência’, que se revelou absolutamente ineficaz.
Rui Vitória não era um extraordinário treinador quando chegou ao Benfica e não sai da Luz como um extraordinário treinador. Sai da Luz com uma extraordinária experiência, que lhe será útil noutros ciclos profissionais e só eventualmente conseguirá algum reconhecimento e destaque quando deixar de ser o ‘treinador bonzinho’, que todos admiram pela sua educação e carácter.
Aliás, há três anos e meio, o Benfica contratou o ‘treinador bonzinho’, com provas dadas de competência, e não o ‘treinador competente’, com qualidade suficiente para se tornar num extraordinário treinador.
Há três anos e meio, o Benfica precisava de um treinador que fosse a antítese de Jorge Jesus. Na Luz, Jorge Jesus era o treinador que não ouvia a estrutura e nem queria saber se A ou B compunha a estrutura. A estrutura era ele, em estreita relação com Luís Filipe Vieira. Jogava quem o treinador achava que tinha condições para jogar e essa coisa de colocar os jovens da formação do ‘onze’ não poderia ser nem uma obrigação, nem algo forçado ou meramente induzido.
O presidente do Benfica, naquele momento, achou que era tempo de abalizar a estrutura e tentou ejectar Jorge Jesus sem dor e até com algum ‘carinho’. A coisa saiu-lhe mal e Jesus acabou no Sporting. Era preciso arranjar um treinador que ouvisse e respeitasse a estrutura e, mais do que isso, se convertesse rapidamente na extensão dessa mesma estrutura. E um treinador que não fizesse ‘peito’ à estrutura só podia ser um ‘treinador bonzinho’. Logo, Rui Vitória.
Luís Filipe Vieira é um ’self-made man’, com faro para o negócio, mas foi desenvolvendo ao longo dos anos o seu lado político. Todavia, o autoconvencimento de que é capaz de controlar tudo e todos, utilizando um tacticismo — como lhe chamar? — tugo-esperto, tem-lhe trazido alguns dissabores.
Tentou ser tugo-esperto quando queria desembaraçar-se de JJ sem estrondo. Ia para a Ásia e pronto.
Todavia, porque era importante manter a presidência intacta, permitiu que a ‘máquina de comunicação’ do Benfica, na qual se inscrevem um conjunto de ‘utilitários’ que só fazem mal à imagem da grande instituição chamada Sport Lisboa e Benfica, derretesse a imagem de Jorge Jesus.
Tentou ser, de novo, tugo-esperto, na jogada de maquilhada protecção a Rui Vitória para ver se conseguia, de facto, recuperar Jorge Jesus, a sua prioridade, mas a tugo-espertice de há três anos e meio acabou por ter um efeito contraproducente.
Agora, com a estrutura menos forte e mais dividida, quando quis reabilitar Jorge Jesus (de quem nunca perdeu o apreço profissional e até pessoal), o feitiço virou-se contra o feiticeiro: muitos adeptos do Benfica, muito por força dessa campanha que lhe foi movida, não querem ouvir falar em Jorge Jesus. As ‘tugo-espertices’ naturalmente pagam-se caras. Pode levar tempo, mas uma tugo-espertice raramente apaga o efeito de outra tugo-espertice.
Sem Rui Vitória e praticamente ‘sem’ Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira precisa de novo de um treinador que o proteja. Quer dizer, o Benfica deixou de precisar de um treinador para proteger (de outro treinador) para necessitar de um treinador que proteja a imagem do presidente. É aqui que se encaixaria José Mourinho, mas é natural que Mourinho tenha outros planos, e antes de segunda-feira, data oficial da ‘caça’ ao novo treinador, já há vários planos perdigueiros a concorrer entre eles… O plano A, B, C, D - e por aí adiante…
O melhor dos planos perdigueiros era recuperar Jorge Jesus no final da época, com Rui Vitória a fazer de treinador-embrulho até Junho, e daí a tentativa de o credibilizar como ‘o treinador do projecto’. Mas, como se viu, o essencial não mudou. Não mudou a qualidade de jogo e, nesse período da ‘iluminação’ (patrocinado pela luz-led de Vieira), a equipa jogou sempre muito menos do que a qualidade do plantel sugere ou projecta.
Quando, no ‘ciclo da iluminação’, isto é, no ‘ciclo-luz-led-de-Vieira, a única coisa que muda é a cor da gravata, deixando de ser às riscas, para ser vermelha lisa, alguma coisa está de facto errada. Ferreyra e Castillo já não faziam parte das opções quando ecoou a promessa de mudança e o o futebol continuou como a primeira gravata: listrada, como um ecrã de televisão (dos antigos) cheio de interferência. Pedimos desculpa por esta interrupção, o futebol do Benfica segue dentro de momentos.
O futebol do Benfica precisa de mudar muito mais, para além da gravata.
O CACTO - A estrutura e a jibóia
… E o FC Porto a 7 pontos, com um Sporting ‘esfarrapado’ no 2.º lugar da Liga e com o SC Braga na 3.ª posição. É neste contexto (com 15 jogos realizados, na Liga) que Rui Vitória deixa o Benfica. Deixa o Benfica sem uma ‘ideia de jogo’ bem definida e deixa o Benfica com a imagem desgastada, muito por força da protecção que a certa altura deixou de lhe ser dada, com abundância de fingimentos.É preciso dizer, no entanto, que o problema do Benfica não se esgota no treinador. O Benfica precisa de um treinador assertivo e convicto nas suas ideias e opções, mas precisa, igualmente, de remodelar a sua estrutura. O falhanço de Rui Vitória é também o falhanço da estrutura. E, sendo o falhanço da estrutura que Vieira criou, é também o falhanço de Vieira. Há papéis que não se entendem, há papéis que se acumulam e chocam, às tantas é o fim da papelada. A estrutura do Benfica, de tanto querer, de tanto querer fazer e comandar, estoirou. Vieira tem uma componente de ‘político’, mas está a faltar-lhe a capacidade de fazer a ‘leitura política’ para onde levou o Benfica ou deixou que levassem o Benfica. Este ‘governo’ já deveria ter sido remodelado. Não o fazê-lo pode ser sinal de que já está demasiado aprisionado à estrutura que criou e que, neste momento, já pode estar a estrangulá-lo, numa espécie de ‘abraço de jibóia’. Nunca se deve confiar totalmente na jibóia.
Não sei se Vieira vai a tempo de desintoxicar o Benfica, isto é, eliminar os produtos tóxicos que, sobretudo a nível da comunicação, estão a dar cabo da imagem da instituição. Não o fazer, contudo, pode levar á consequência de se achar que, afinal, o principal produto tóxico é ele, Vieira. E isso choca com tudo aquilo que de bom conseguiu fazer.
Há três anos e meio, o Benfica precisava de um treinador que fosse a antítese de Jorge Jesus. Na Luz, Jorge Jesus era o treinador que não ouvia a estrutura e nem queria saber se A ou B compunha a estrutura. A estrutura era ele, em estreita relação com Luís Filipe Vieira. Jogava quem o treinador achava que tinha condições para jogar e essa coisa de colocar os jovens da formação do ‘onze’ não poderia ser nem uma obrigação, nem algo forçado ou meramente induzido.
O presidente do Benfica, naquele momento, achou que era tempo de abalizar a estrutura e tentou ejectar Jorge Jesus sem dor e até com algum ‘carinho’. A coisa saiu-lhe mal e Jesus acabou no Sporting. Era preciso arranjar um treinador que ouvisse e respeitasse a estrutura e, mais do que isso, se convertesse rapidamente na extensão dessa mesma estrutura. E um treinador que não fizesse ‘peito’ à estrutura só podia ser um ‘treinador bonzinho’. Logo, Rui Vitória.
Luís Filipe Vieira é um ’self-made man’, com faro para o negócio, mas foi desenvolvendo ao longo dos anos o seu lado político. Todavia, o autoconvencimento de que é capaz de controlar tudo e todos, utilizando um tacticismo — como lhe chamar? — tugo-esperto, tem-lhe trazido alguns dissabores.
Tentou ser tugo-esperto quando queria desembaraçar-se de JJ sem estrondo. Ia para a Ásia e pronto.
Todavia, porque era importante manter a presidência intacta, permitiu que a ‘máquina de comunicação’ do Benfica, na qual se inscrevem um conjunto de ‘utilitários’ que só fazem mal à imagem da grande instituição chamada Sport Lisboa e Benfica, derretesse a imagem de Jorge Jesus.
Tentou ser, de novo, tugo-esperto, na jogada de maquilhada protecção a Rui Vitória para ver se conseguia, de facto, recuperar Jorge Jesus, a sua prioridade, mas a tugo-espertice de há três anos e meio acabou por ter um efeito contraproducente.
Agora, com a estrutura menos forte e mais dividida, quando quis reabilitar Jorge Jesus (de quem nunca perdeu o apreço profissional e até pessoal), o feitiço virou-se contra o feiticeiro: muitos adeptos do Benfica, muito por força dessa campanha que lhe foi movida, não querem ouvir falar em Jorge Jesus. As ‘tugo-espertices’ naturalmente pagam-se caras. Pode levar tempo, mas uma tugo-espertice raramente apaga o efeito de outra tugo-espertice.
Sem Rui Vitória e praticamente ‘sem’ Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira precisa de novo de um treinador que o proteja. Quer dizer, o Benfica deixou de precisar de um treinador para proteger (de outro treinador) para necessitar de um treinador que proteja a imagem do presidente. É aqui que se encaixaria José Mourinho, mas é natural que Mourinho tenha outros planos, e antes de segunda-feira, data oficial da ‘caça’ ao novo treinador, já há vários planos perdigueiros a concorrer entre eles… O plano A, B, C, D - e por aí adiante…
O melhor dos planos perdigueiros era recuperar Jorge Jesus no final da época, com Rui Vitória a fazer de treinador-embrulho até Junho, e daí a tentativa de o credibilizar como ‘o treinador do projecto’. Mas, como se viu, o essencial não mudou. Não mudou a qualidade de jogo e, nesse período da ‘iluminação’ (patrocinado pela luz-led de Vieira), a equipa jogou sempre muito menos do que a qualidade do plantel sugere ou projecta.
Quando, no ‘ciclo da iluminação’, isto é, no ‘ciclo-luz-led-de-Vieira, a única coisa que muda é a cor da gravata, deixando de ser às riscas, para ser vermelha lisa, alguma coisa está de facto errada. Ferreyra e Castillo já não faziam parte das opções quando ecoou a promessa de mudança e o o futebol continuou como a primeira gravata: listrada, como um ecrã de televisão (dos antigos) cheio de interferência. Pedimos desculpa por esta interrupção, o futebol do Benfica segue dentro de momentos.
O futebol do Benfica precisa de mudar muito mais, para além da gravata.
O CACTO - A estrutura e a jibóia
… E o FC Porto a 7 pontos, com um Sporting ‘esfarrapado’ no 2.º lugar da Liga e com o SC Braga na 3.ª posição. É neste contexto (com 15 jogos realizados, na Liga) que Rui Vitória deixa o Benfica. Deixa o Benfica sem uma ‘ideia de jogo’ bem definida e deixa o Benfica com a imagem desgastada, muito por força da protecção que a certa altura deixou de lhe ser dada, com abundância de fingimentos.É preciso dizer, no entanto, que o problema do Benfica não se esgota no treinador. O Benfica precisa de um treinador assertivo e convicto nas suas ideias e opções, mas precisa, igualmente, de remodelar a sua estrutura. O falhanço de Rui Vitória é também o falhanço da estrutura. E, sendo o falhanço da estrutura que Vieira criou, é também o falhanço de Vieira. Há papéis que não se entendem, há papéis que se acumulam e chocam, às tantas é o fim da papelada. A estrutura do Benfica, de tanto querer, de tanto querer fazer e comandar, estoirou. Vieira tem uma componente de ‘político’, mas está a faltar-lhe a capacidade de fazer a ‘leitura política’ para onde levou o Benfica ou deixou que levassem o Benfica. Este ‘governo’ já deveria ter sido remodelado. Não o fazê-lo pode ser sinal de que já está demasiado aprisionado à estrutura que criou e que, neste momento, já pode estar a estrangulá-lo, numa espécie de ‘abraço de jibóia’. Nunca se deve confiar totalmente na jibóia.
Não sei se Vieira vai a tempo de desintoxicar o Benfica, isto é, eliminar os produtos tóxicos que, sobretudo a nível da comunicação, estão a dar cabo da imagem da instituição. Não o fazer, contudo, pode levar á consequência de se achar que, afinal, o principal produto tóxico é ele, Vieira. E isso choca com tudo aquilo que de bom conseguiu fazer.
Ter em conta a opinião deste biltre seja de que assunto for relativo ao Benfica, é o mesmo que ter Hitler a dar opinião sobre os judeus!
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