domingo, 21 de abril de 2019

Benfiquistas, aqui está um excelente artigo

Este é um daqueles artigos que não se deve deixar de ler, em especial, alguns benfiquistas que teimam em não perceber o actual momento da equipa encarnada. 

Sublinhados em baixo da minha responsabilidade.


 

Nos tempos que correm, é realmente impressionante ver como pode o futebol alimentar-se disto: o Manchester City foi eliminado da Liga dos Campeões por causa de um fora de jogo absolutamente milimétrico - e só descortinado, como é evidente, com recurso às imagens do videoárbitro -, do mesmo modo que só o VAR foi capaz de confirmar como válido o primeiro (e muito decisivo) golo do Liverpool conseguido no Porto na milimétrica linha do fora de jogo - e que praticamente atirou o dragão para fora da Champions -; já o Benfica sofreu ontem na Alemanha um golo em claro fora de jogo que a ausência de VAR tornou legal, que lhe abriu caminho para se ver afastado da Liga Europa. 

Com VAR se mata, com VAR se morre. Já sabemos. Mas ter VAR na Liga dos Campeões e não ter na Liga Europa é pior ainda. É irresponsabilidade da UEFA. É, sobretudo, brincar com os adeptos do futebol. É muito simples: ou há VAR nas duas competições ou não há VAR em nenhuma delas. Como diz o povo, ou há moralidade ou comem todos. Devia ser assim!

Já se sabe (ou devemos saber) que mesmo o VAR nunca esclarecerá tudo no futebol, porque está o futebol muito longe de ser um jogo onde tudo é branco ou preto. O futebol - desculpem o lugar comum - é um jogo de contacto e como jogo de contacto está sujeito a interpretações, e nem todos os lances são suficientemente claros para julgamento unânime e mesmo a TV cria ilusões de ótica nem sempre fáceis de ultrapassar.

Pep Guardiola, por exemplo, consegue continuar a dizer que o terceiro golo do Tottenham foi marcado com a mão mesmo depois de ver as imagens televisivas que levaram o VAR (e muitos de nós, que viram o jogo) a confirmar que o golo de Llorente foi limpo. Se houve mão foi de um jogador do City e não do Tottenham. Mas Guardiola continua a dizer o contrário. Se, como se exemplifica, vai continuar a haver quem possa dizer que é preto o que na verdade é branco, imagine-se quando o lance é cinzento e, portanto, julgado pela cor do olhar que o vê da forma que mais lhe convém!...

É, por isso, exatamente na questão do fora de jogo que mais sentido prático tem o VAR, porque o fora de jogo é, na esmagadora maioria dos casos, fácil de definir com recurso às famigeradas novas tecnologias. Não estou, nunca estarei, contra a existência do VAR no futebol, mas desde o início do debate que defendo a tecnologia para o golo e para o fora de jogo, tendo, sobretudo, em conta que nós, latinos, começamos por não ter cultura para aceitar o VAR, como disse recentemente, e eu estou de acordo, Abel Ferreira, treinador do SC Braga.

A questão, voltando ao que interessa, é que não pode o futebol estar sujeito à diferença de critério da UEFA em provas de impacto tão mediático e dimensão tão importante para clubes e adeptos como são as duas competições que dominam a atividade do futebol europeu. Jogarem uns com VAR e outros sem, é brincar com os clubes e é brincar com os adeptos, já para não falar das péssimas arbitragens que tocaram, em particular, as equipas portuguesas nestes quartos de final, como a do FC Porto em Liverpool (ainda hoje ninguém consegue entender como Salah não foi expulso e, portanto, afastado do jogo do Dragão, jogando assim onde não devia e onde veio a ser, mais uma vez, como se esperava, um dos melhores) e a do Benfica ontem, na Alemanha, com erros tremendos como o do tal primeiro golo do Eintracht, obtido em claríssimo fora de jogo, mais aquela duríssima entrada de Falette sobre Gedson para vermelho direto e que nem falta mereceu, já para não falar no ridículo que foi ver a bola sair das quatro linhas e voltar a entrar num ataque germânico, com o árbitro a mandar jogar num lance que por muito pouco não deu o terceiro golo à equipa alemã, ou até mesmo uma carga em falta nas costas de João Félix, já quase no final, merecedora de castigo máximo. Mau de mais numa competição tão importante e numa fase já tão decisiva da prova.

COMO sempre se exige, não deve, porém, o Benfica lamentar apenas a infeliz arbitragem do italiano Daniele Orsato. Já tinha ficado do jogo da Luz a ideia de se tornar muito provável que o Benfica precisasse de fazer um golo na Alemanha para aspirar seguir em frente na Liga Europa. Esse golo não foi o Benfica capaz de fazer.

Porque jogou mais tempo mal do que bem - péssima primeira parte - ,  porque alguns dos seus jogadores estiveram, de novo, bem abaixo do que se exige a este nível - Fejsa, por exemplo, parece cada vez mais incapaz de voltar a um nível alto, Rafa foi desta vez uma desilusão porque foi amarrado ao flanco direito, e João Félix nem sempre conseguiu soltar-se verdadeiramente no jogo interior - e porque (isso também faz a diferença) o Benfica é uma equipa demasiado leve para travar combates fisicamente mais exigentes.

Jogasse o Benfica num ringue de boxe e seria certamente campeão dos pesos-ligeiros. Quando a equipa está bem tem fortíssima dinâmica, muita qualidade técnica, velocidade e talento, e quando está inspirada é capaz de ser um diabo à solta. Já não pode contar sempre com a veia goleadora de Jonas, e isso retira-lhe muita eficácia, como sabemos, porque os grandes avançados custam muito dinheiro e Seferovic está para o Benfica mais ou menos como Marega está para o FC Porto - precisam ambos, na maior parte dos jogos, de cinco ou seis oportunidades para fazer um golo!

O problema é quando o Benfica enfrenta pesos mais pesados e o jogo exige um combate mais físico. Nesses duelos, Grimaldo, Rafa, Pizzi, mesmo Gedson ou João Félix, mais Cervi ou Zivkovic, perdem muito mais do que ganham. E quando a isso se junta a gestão do treinador, a coisa ainda fica pior.

Pode compreender-se que o Benfica tenha definido o campeonato como o objetivo principal. Tal como o FC Porto. Mas é difícil compreender que pareça encarar-se a Liga Europa como um objetivo secundário. 

E não se compreende, por isso, que o treinador do Benfica seja levado a abdicar do melhor onze para um jogo como o da Alemanha. Não se compreende porque não faz sentido poupar Ferro ou Florentino (ou mesmo Pizzi), jovens de 19 ou 20 anos, a pensar no campeonato. E não faz sentido achar que é secundário seguir ou não na Liga Europa. 

Para o Benfica, isso nunca pode ser secundário. O que exige um adepto que viaja do Toronto para Frankfurt - e gasta centenas de euros - para seguir o Benfica, é que o Benfica dê sempre tudo o que tem e que o treinador escolha todos os melhores jogadores.

Nem o Benfica pareceu dar tudo nem o treinador do Benfica pareceu escolheu todos os melhores, preferindo jogar com Jardel e Fejsa (cada vez mais abaixo do que já valeram!) em vez de Ferro e Florentino.

O que fica, pois, desta eliminação portuguesa das competições europeias - além das já referidas péssimas arbitragens… - é um FC Porto que, tendo sido goleado, mostrou, e bem, porque chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões mesmo diante de um fortíssimo Liverpool, e um Benfica que se revelou mesmo incapaz de segurar uma vantagem que já se adivinhava perigosa a partir do momento em que o Eintracht Frankfurt fez dois golos na Luz.
INFELIZMENTE para o FC Porto é a eficácia precisamente o que mais diferença faz ainda num jogo de futebol. Conseguiu o FC Porto jogar muito bem na primeira meia hora do jogo no Dragão com o Liverpool mas não conseguiu o que conseguiu o Liverpool jogando bem pior nessa meia hora - fazer um golo. E foi verdadeiramente isso que fez a diferença no jogo desta segunda mão - o golo que Sadio Mané foi capaz de marcar quando o FC Porto era a equipa que melhor jogava.

Ao contrário do Benfica, mostra o FC Porto peso suficiente para travar combates com equipas poderosas, como se viu nesta eliminatória com o poderoso Liverpool. O que o FC Porto não tem é a classe que têm adversários desta natureza. E voltou a ser a falta de classe a fazer toda a diferença.

Se Marega tivesse a eficácia (e, portanto, a classe) de Salah ou Mané, valeria bem acima dos 100 milhões de euros. Como não tem, o FC Porto está eliminado. E o melhor que conseguiu foi ser um adversário difícil para o Liverpool. Deixa, mais uma vez, porém, excelente imagem europeia, e deixou, sobretudo neste jogo de quarta-feira, a certeza de ter contratado (e já vendido) um defesa de grande nível como é Éder Militão. O único, aliás, que esteve ao nível dos melhores do Liverpool!
Artigo de João Bonzinho no Jornal «A Bola»

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