terça-feira, 21 de maio de 2019

BRUNO LAGE: Homem providencial

Sem dúvida, um bom artigo de opinião do jornalista Bruno Prata no Jornal Record.

Só daqui a uns anitos se perceberá completamente se nos genes do treinador Bruno Lage figura mesmo a sua disposição ao impossível. Mas quem foi capaz de ressuscitar, em poucos meses, uma equipa moribunda e de levá-la a uma glória inopinada não merecia que o feito fosse timbrado de improcedente e imerecido pelo principal concorrente do Benfica (uma declaração autocrítica de Herrera foi, salvo erro, a única exceção). Até porque o jovem e debutante técnico setubalense não se limitou a transfigurar radicalmente o futebol murcho herdado de Rui Vitória. A polidez e o decoro das suas maneiras e das suas palavras, entre outras peculiaridades definidoras do seu carácter, serviu para provar que o futebol também pode ser generoso com os que defendem os seus valores mais nobres.
Foram múltiplas as lições de civilidade e lucidez que Bruno Lage nos ofereceu na hora das comemorações. A começar pela sentida homenagem que prestou ao seu mentor Jaime Graça. Mas também na vontade de que o futebol deixe de ser "a coisa mais importante das nossas vidas" – e quase intentou uma intervenção política quando acrescentou que as energias contestatárias e reivindicativas seriam mais bem aplicadas no que realmente mexe e interfere com as nossas vivências quotidianas. Bruno Lage foi especialmente certeiro quando falou na necessidade de começarmos "a tratar os nossos adversários pelo nome e não pelos apelidos", uma descortesia que há muito vem sendo repartida, em doses idênticas, pelos principais responsáveis do Benfica e do FC Porto e, noutros tempos, do Sporting. 

E quando pediu que se passe a dar "mérito aos vencedores e se honre os vencidos", não estava certamente apenas a desaprovar o cartaz gigante em que os "SuperDragões" voltaram a ser tão subtis como um comboio de mercadorias. Porque todos nos recordamos que o título conquistado pelo FC Porto em 2012/13 foi considerado pelo Benfica como "um tributo aos árbitros". Mas se Bruno Lage falou na "reconquista do futebol e das boas maneiras", Luís Filipe Vieira privilegiou "a reconquista da dignidade do Benfica". Percebe-se tanto o desabafo como o aproveitamento que nele está subentendido. Mas o presidente benfiquista não pode esquecer que o discurso exagerado e autodesculpabilizante do FC Porto contra os árbitros teve mais impacto e conseguiu mais prosélitos porque ainda ninguém esqueceu o conteúdo dos e-mails revelados durante a época passada e em que ficava mais ou menos claro que o Benfica tinha uma estratégia de controlo dos sistemas de arbitragem, disciplinar e até da justiça civil. É um sinete negro que, tal como o "Apito Dourado", levará muitas gerações até ser totalmente mascarado, independentemente do acesso ilegítimo aos servidores e do que vier a ser decidido nos tribunais.

Mas tentar retirar aproveitamento disso nesta altura não é apenas um sinal de falta de cultura desportiva e de mau perder, bem visível, de resto, nalguns profissionais da palavra que se especializaram em arranjar discussões até numa sala vazia. A visão destes fundamentalistas é principalmente uma desconsideração inadmissível e injusta aos jogadores e à equipa técnica do Benfica. Designadamente a um Bruno Lage que se afirmou rapidamente como um homem providencial e que, a certa altura, teve a magnanimidade de "agradecer aos jogadores" por terem feito dele treinador. A sua boa gestão das palavras notou-se até quando tocou a rebate dizendo que o "Benfica não podia perder o campeonato duas vezes". É nos detalhes que um homem manifesta o seu verdadeiro carácter e Lage até nas referências ao "Canal Panda" e ao "Super Wings" provou ser feito de outra madeira.

O título do Benfica foi mais do que justificado pela segunda melhor pontuação na história da liga, pela esmagadora vantagem no mini-campeonato dos "grandes", pelos 103 golos marcados (72 com Lage), pela melhor segunda volta de sempre (jogando em casa não só dos principais rivais, mas de todas as melhores equipas portuguesas), pelas sete "cambalhotas" no marcador e pela Bota de Ouro de Seferovic. E também, claro, pelo futebol frenético e revigorante que foi capaz de apresentar após a troca de treinador e tudo o mais que se lhe seguiu.

Assumi-lo teria sido também a melhor forma de respeitar e enobrecer um FC Porto que foi vencido, mas que conseguiu a sua segunda melhor pontuação de sempre, apenas atrás do recorde conseguido na época passada por Sérgio Conceição. Dizer o contrário nem bate certo com a enfática tese de que só os jericos se desculpam com os erros arbitrais…

Toque de Midas

Bruno Lage tem sido gabado pela bravura tida logo no jogo da sua estreia (6 de janeiro), frente ao Rio Ave: mudou o sistema e deu a titularidade ao mancebo João Félix, que finalmente se fixaria na zona central, onde o seu incomum talento mais faz a diferença. O treinador não demorou a perceber que o melhor parceiro para o associar era Seferovic (até em função das limitações físicas de Jonas, porque Castillo e Ferreyra rapidamente iriam à sua vida…). No jogo seguinte, nos Açores, fez mais duas alterações fundamentais na montagem do que viria a transformar-se numa máquina de fazer golos: Pizzi regressou à ala e entrou para o meio Gabriel, pedido expresso de Rui Vitória, que nunca o soube rentabilizar. A lesão de Fejsa em Guimarães (Taça de Portugal) provocou outra troca importante: a aposta em Samaris, que três dias depois, no mesmo estádio, mas agora para a Liga, começaria a justificar a titularidade. O triunfo (0-1) frente ao Vitória foi considerado pelo próprio Lage como o momento mais determinante na caminhada triunfal. Ferro aproveitou a lesão de Jardel frente ao Sporting (Taça de Portugal), deixando claro que a sua qualidade técnica e capacidade de saída de bola e de construção eram mais-valias. E Florentino começou também a ser utilizado cada vez com mais frequência, acabando por se tornar um jogador importante, até em função da lesão de Gabriel. Muito antes de isso, já Rafa se havia afirmado como um jogador transfigurado, vertical e supersónico como sempre, mas agora com uma tranquilidade que beneficiou em muito a sua eficácia finalizadora (marcou nas últimas cinco jornadas).

O toque de Midas de Bruno Lage pode ser medido em função das mudanças táticas e da aposta certeira em jogadores jovens (aí beneficiou da experiência nos cargos anteriores) ou desacreditados (Samaris é caso mais surpreendente). O ajuste tático (4x4x2 clássico com dois médios raramente em linha) mostrou que Lage percebeu que é rentável jogar na liga portuguesa com uma equipa muito ofensiva, mesmo por vezes se desequilibrada. Mas o Benfica melhorou principalmente porque enriqueceu a qualidade do treino. Provam-no as melhorias na capacidade de pressão, na reação à perda e até organização e na definição da linha defensiva. Não é perfeito, continua a ter dificuldade na gestão com bola (apesar da melhoria), mas já é uma equipa com guião, unida e feliz.
Artigo de opinião de Bruno Prata no Jornal Record

1 comentário:

  1. Sem dúvida que é um mais um escrito de merda, não um bom artigo de opinião. Tendencioso e a meter todos no mesmo saco.

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