terça-feira, 7 de maio de 2019

Proença não pode assobiar para o lado

Nem sempre estou de acordo com Bruno Prata, mas este artigo de opinião em baixo é 'deveras' interessante e também válido. Apesar da minha opinião ser que a Liga deveria deixar de existir. 

Deveria ser a FPF a organizar todas as provas e a legislar em causa própria. 

Isso dos clubes 'fazerem as leis' e depois ser o conselho de disciplina da FPF a aplicar certos e determinados castigos (muitos deles, resultantes dessas ditas leis 'feitas' pelos clubes em Assembleias Gerais da Liga) não cabe na cabeça de ninguém. 

Quando os nossos clubes levam castigos, a nossa primeira reação é atacar o CD da FPF sem nos informarmos primeiramente do porquê. E o porquê é quase sempre derivado das leis que os clubes 'fazem'. Triste sina, a nossa! 

A liga portuguesa viveu uma semana que teve tanto de frenética como de desassossegada, um contraste descomedido que já se sabe ser uma das suas imagens de marca. A tendência para o hiperbólico foi bem visível, por exemplo, no total de 17 golos marcados pelos três grandes (que consentiram apenas dois). A esmagadora maioria dos nossos adeptos teve assim um fim-de-semana muito regalado, até porque, obviamente, não têm de ser principalmente eles a preocupar-se com a falta de competitividade do futebol português, onde a distribuição do dinheiro continua a seguir lógicas que só acentuam as desigualdades. 
Claro que não se trata de uma disfunção exclusiva da nossa liga: ainda há dias, o treinador do Tottenham, Maurício Pochettino, que se havia queixado por o Ajax ter tido mais dias para preparar o confronto da Champions, teve de enfiar a viola no saco quando Erik ten Hag lhe respondeu que tinha ido bater a Inglaterra uma equipa que recebe 200 milhões de euros só de direitos televisivos da Premier League, enquanto a sua embolsa menos de 10 milhões na Eredivisie… 

A verdade é que os fenómenos em que o Golias é surpreendido pelo David são cada vez mais uma raridade. E isso nota-se ainda mais numa liga caseira e tão nivelada por baixo como é a portuguesa, uma das que mais acusa esta epidemia autocentrada que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez menos habilitados. 

Há alguns sinais de que a FPF pretende lutar contra esta realidade, mas nunca o conseguirá verdadeiramente se a grande maioria dos clubes não se unir também nesse sentido, seja no âmbito do G-15 ou não, sendo certo que terão provavelmente de o fazer sempre à revelia do poder instituído imposto principalmente pelo Benfica e pelo FC Porto. E uma boa oportunidade de apregoarem a sua revolta e exigirem verdadeiras medidas, sejam elas a venda centralizada dos direitos televisivos ou tão só uma distribuição dos dinheiros mais igualitária, é agora, que se aproximam eleições para a direção da Liga de Clubes. 

Pedro Proença já deixou clara a vontade de se recandidatar a uma presidência que irá vigorar entre 2019 e 2023. Irá certamente acentuar a campanha nos próximos tempos, propagandeando principalmente o saneamento das contas que diz ter sido capaz de fazer na própria liga. E a verdade é que tem mais legitimidade para lutar por esse objetivo do que o outro nome que, vá lá saber-se como e porquê, foi aventado como hipótese pela imprensa nos últimos dias. Até porque, tanto quanto se sabe, o advogado Hugo Soares tem como principal (ou única?) ligação ao futebol ter sido constituído arguido, a par de vários outros políticos, no caso das viagens e estadias para o Euro 2016, que a seleção portuguesa venceu em França. 

Mas tenha ou não adversário na corrida, Pedro Proença deveria ter a frontalidade de assumir, desde já, que a liga não pode continuar a funcionar como se se tratasse apenas de uma federação patronal, em que uns (poucos) parecem mandar mais do que outros. Quem organiza os campeonatos profissionais tem de se preocupar menos em passar enxuto entre os pingos da chuva e arriscar verdadeiras mudanças que ajudem a mudar o paradigma do nosso futebol. E tem de assumir que, para os males extremos, só são eficazes os remédios intensos.

Mais do que operações cosméticas como foi a ideia engelhada (e em desuso) de colocar no relvado meninas esbeltas e despojadas de roupa na cerimónia de apresentação das equipas, Pedro Proença devia explicar-nos, por exemplo, como pensa eliminar o campeonato paralelo da má língua, dos comunicados desavergonhados e dos ataques verbais concertados e sórdidos a quem arbitra ou gere a disciplina, consequência de uma panela rançosa que tanto mal faz à indústria do futebol. Devia também clarificar a sua opinião sobre o fenómeno das claques e o que propõe para resolver o problema da violência e da intimidação que afasta as famílias e ou simples adeptos mais judiciosos dos estádios.

No futebol, como nos negócios, há três tipos de pessoas: as que fazem acontecer, as que veem o que acontece e as que ficam a perguntar o que está a acontecer. Ora, um presidente da Liga tem de estar sempre no primeiro lote. Não pode assobiar para o lado.
 

Cinco estrelas - NES fez-se ao respeito
Depois da subida de divisão de há um ano, Nuno Espírito Santo prepara-se para apurar o Wolverhampton para a Liga Europa (se o City vencer a Taça de Inglaterra). O sétimo posto na Premier League é a confirmação de um excelente treinador que em Portugal foi injustiçado.

Quatro estrelas - As meninas de Braga
À terceira tentativa, António Salvador viu recompensada a aposta no futebol feminino. Treinado por Miguel Santos, o Braga é um campeão nacional com muito mérito. As meninas fizeram ver aos homens.

Três estrelas - Zidane liberta-se de Bale 
Zidane ainda não conseguiu fazer regressar o Real aos melhores trilhos, mas a notícia de que já comunicou a Bale, bem como a Marcos Llorente e a Cebalhos, que estão de saída, mostra liderança e vontade de procurar novas rotas.

Duas estrelas - Fracasso do United
Um empate cedido frente ao despromovido Huddersfield confirmou que o United fica fora da Champions. Um fracasso maiúsculo para um projeto esbanjador iniciado por Mourinho e a que Solskajer, depois de um início prometedor, não soube dar a volta.

Uma estrela -Os pecados das claques
A jurisdição desmesurada e perversa das claques voltou agora a ficar provada no último jogo no Dragão, bem como nas pinturas ignóbeis com que, durante um encontro de andebol na Luz, foram vandalizadas as carrinhas da claque do Sporting. E é óbvio que Sérgio Conceição e o plantel portista não deviam ter regressado dos balneários. 
Artigo de Bruno Prata no Jornal Record

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